Editorial

Dilema boliviano

Eleições presidenciais e o acordo do gás com o Brasil


Publicado em 26 de outubro de 2020 | 03:00
 
 
 
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A vitória de Luis Arce nas eleições bolivianas leva de volta ao poder o partido de Evo Morales e, como o novo presidente disse, pode significar uma repactuação do contrato de fornecimento de gás natural para o Brasil. Mas essa afirmação, que no passado soava como ameaça, hoje é um desafio bem menor para a diplomacia brasileira.

No horizonte de Arce está um mercado de US$ 1,3 bilhão – que já encolheu 50% em cinco anos – e um passivo de até US$ 6 bilhões do contrato de 20 anos vencido no ano passado e cuja renovação ele contesta por ter sido assinado pelo governo que chegou ao poder no rastro dos protestos e de uma quartelada que levaram à renúncia de Evo Morales.

Atualmente, 95% de todo o gás que o Brasil importa vem da Bolívia e se destina a abastecer, principalmente, Mato Grosso do Sul e indústrias na Bahia e no Ceará. Mas, diferentemente do passado, esse volume representa menos de um quarto de todo o hidrocarboneto consumido pelo país. A principal razão dessa independência é o pré-sal, cuja produção cresceu mais de 30% somente no ano passado.

Além disso, com a aprovação no início deste ano do marco da distribuição do gás, novos investimentos permitirão ampliar ainda mais o aproveitamento da produção nacional.

As condições nunca foram tão favoráveis para o Brasil nessa relação, e, devido à atual orientação do Itamaraty em relação aos governos de esquerda, dificilmente o governo aceitará uma repactuação em termos menos vantajosos que os atuais. O desafio, contudo, persiste, pois um arrocho do maior parceiro comercial da Bolívia pode agravar a situação em um país em que 38% da população vive abaixo da linha de pobreza e causar uma crise humanitária com reflexos do lado de cá da fronteira.

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