A formalização do apoio de Donald Trump à entrada do Brasil no “clube dos países ricos”, na semana que passou, foi uma vitória do alinhamento automático aos Estados Unidos. Muito ainda precisa ser feito, e o próprio Planalto reconhece que a entrada definitiva na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) deve ocorrer em até três anos.
Apesar de ser considerada uma prioridade do governo Bolsonaro, a inclusão na entidade vem sendo construída desde 1996, na adesão ao Comitê do Aço. Em 2012, o Brasil foi elevado a parceiro-chave, ao lado de China, Índia, Indonésia e África do Sul, tendo formalmente solicitado sua adesão em 2017, já no governo de Michel Temer. Dos 254 instrumentos legais da OCDE, o governo já aderiu formalmente a 65 e solicitou acesso a outros 57.
Ser sócio desse clube significa acesso a linhas de crédito especiais e ao respaldo de uma organização que concentra 80% de comércio e fluxo financeiro mundiais. Também representa a renúncia ao tratamento diferenciado de emergente na Organização Mundial do Comércio (status do qual a China ainda goza) e à liberdade na definição de taxas e sanções na defesa ante crises globais.
Não é a primeira vez que a diplomacia brasileira abandona o pragmatismo e se entrega ao alinhamento automático. A primeira vez foi logo após a morte do Barão de Rio Branco e a Primeira Guerra Mundial, não resultando em ganhos efetivos devido ao estado incipiente da economia nacional ante a crescente hegemonia norte-americana. Passado o governo de Getúlio Vargas, houve o realinhamento após a Segunda Guerra Mundial que quase levou o país a participar da Guerra da Coreia.
Resta ver se, desta vez, a política de “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil” trará ganhos palpáveis ou se servirá apenas de suporte à potência hegemônica no sistema internacional.