A definição da realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no fim de janeiro e início de fevereiro do ano que vem mostra uma confiança do Ministério da Educação na conclusão deste ano letivo, apesar dos desafios impostos pela pandemia.

É uma decisão importante. Dela depende o destino de pelo menos 5,8 milhões de jovens inscritos nas provas que deveriam ser realizadas em novembro. Em consulta pública realizada pelo MEC, a maioria dos estudantes sugeriu que o exame ocorresse em maio do ano que vem, mas as implicações de tamanho atraso para a gestão das instituições e para o percurso pedagógico seriam imprevisíveis.

Escolas migraram da forma que puderam para o regime de ensino remoto em uma sociedade extremamente desigual. Enquanto três em cada dez alunos da rede pública não possuem acesso à internet em casa, o índice de estudantes offline na rede particular é de três em cada cem. Não se pode esperar seriamente que esses jovens concorram em condições de igualdade.

Um segundo problema é que ainda não há aferições conclusivas do quanto os alunos, independentemente da rede em que estão matriculados, estão apreendendo do conteúdo ensinado nas aulas por computador. E as consequências nocivas de tal falha se estendem muito além da realização do Enem.

Do ponto de vista administrativo, só em Minas, de 11 universidades federais, sete estão com o ano letivo suspenso desde março – muitas sem previsão de volta. Então, mesmo que os candidatos passem no exame do ensino médio, resta a dúvida de que forma, com o calendário atrasado, as instituições conseguirão incluí-los.

O que há de certo é que o Enem de 2020 será a mais difícil e severa prova para a educação brasileira.