EDITORIAL

Educação para poucos

No exame do Enem, 269 pontos separaram a escola mais bem-colocada daquela com a pior posição.


Publicado em 04 de junho de 2019 | 03:00
 
 
 
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Reportagem publicada na edição de ontem de O TEMPO investigou como a desigualdade social se reflete na universidade, tomando como objeto de estudo o conjunto de escolas de ensino médio públicas e privadas em Belo Horizonte.

A investigação seguiu a trajetória de duas turmas de alunos que terminaram o ensino médio em 2013 e que fizeram o Enem em seguida. A escola pública situava-se em bairro de periferia; a privada, em bairro de classe média-alta.

No exame do Enem, 269 pontos separaram a escola mais bem-colocada daquela com a pior posição. Essa diferença de pontuação foi fundamental para decidir o futuro dos alunos dentro ou fora da universidade e no mercado de trabalho.

Dos egressos da escola pública de ensino médio, 82,7% não conseguiram fazer um curso superior. Os 17,5% que o alcançaram o fizeram numa instituição privada. Nenhum ingressou numa universidade pública.

Já entre os que cursaram uma escola privada de ensino médio, todos fizeram um curso superior, sendo 60% deles em universidade pública. Estes fazem parte dos 11% de alunos de escolas privadas, contra os 89% de públicas.

A Lei de Cotas vem aumentando o ingresso de alunos de escolas públicas na universidade pública. Mas essas ações apenas educacionais são insuficientes. Não basta investir somente na educação. É preciso promover mudança social.

Há pouco mais de cem anos, os negros não tinha direito à educação. Na primeira metade do século passado, a escola pública destinava-se sobretudo a atender as elites. A universalização é recente e promoveu um avanço social importante.

No entanto, a estrutura da sociedade, com a manutenção de enormes diferenças de classe, constitui um empecilho ao desenvolvimento da educação. Muitos jovens não prosseguem os estudos porque têm de trabalhar.

A qualidade do ensino ofertado pela escola pública é outro óbice. Mais centrada nos resultados da educação, a instituição privada acentua a desigualdade social quando se trata de disputar uma vaga no mercado de trabalho.

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