Felicidade não tem fim

O Carnaval de Belo Horizonte revigorou-se como uma iniciativa popular espontânea. Quando todo mundo já se acostumara ao marasmo na capital durante o período, pequenos blocos se tornaram grandes graças à iniciativa das pessoas, surpreendendo a cidade e o poder público.

Neste ano, quando as enchentes de janeiro trouxeram destruição e tristeza, e o impasse dos carros de som provocou dúvidas, a festa voltou a causar admiração, não por lotar as ruas da capital de gente e música, mas por vestir-se de solidariedade e inclusão. Grupos que costumam ser discriminados no dia a dia ganharam visibilidade e aceitação nos desfiles e nas ruas como aquilo que realmente são: cidadãos.

Por dia, mais de 8.000 crianças nascem no Brasil, mas suas mães não raro têm de amamentar escondidas ante ameaças de reprovação de grupos estridentes. Um em cada dez brasileiros tem mais de 65 anos, e muitos deles são vítimas de uma invisibilidade de direitos e relegados ao esquecimento. No país, 12,7 milhões são pessoas com deficiência e outros 17,2 milhões apresentam limitações funcionais, para os quais faltam uma arquitetura inclusiva e serviços adaptados. E como chamar negros e pardos de “minoria”, tratados como cidadãos de segunda classe, quando eles são quase 60% da população?

E o Carnaval deste ano chamou a atenção por receber a todos, lactantes, idosos, pessoas com deficiência, público LGBT e afrodescendentes, como parte indissociável dos blocos, quando não como razão maior de sua existência.

A esperança é que esse sentimento de integração permaneça, rendendo os frutos de uma sociedade igualitária e inclusiva. Como o Carnaval mostrou, o preconceito não resiste à alegria. E cabe a nós lutar para não deixar a felicidade – e a inclusão – se acabar na quarta-feira.