Editorial

Inocular informação

Vacina russa e campanhas de desinformação


Publicado em 13 de agosto de 2020 | 03:00
 
 
 
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A aprovação da vacina Sputnik V pela Rússia causou uma comoção ainda maior do que o lançamento do satélite da era da Guerra Fria que inspirou o seu nome. Menos pelo fato de ser a primeira, mais por ter atropelado diversas etapas da pesquisa científica para isso. Não se pode discutir a eficácia da vacina russa – não há publicações consistentes sobre isso. Mas é preciso alertar que, ignorando os estágios de um estudo para liberação de medicamentos em nome da segurança, a iniciativa está colocando a segurança em risco. Isso porque, em um ambiente no qual a questão dos tratamentos e da imunização está polarizada ao extremo, esse relaxamento afeta a confiança e cria uma brecha ao anticientificismo. Grupos antivacina têm inundado a internet de materiais. Um deles, o vídeo “Plandemic”, defende que as campanhas de imunização da Covid-19 fazem parte de um plano secreto de controle da população e que as vacinas estariam sendo projetadas para matar, e não salvar vidas. Ele atingiu milhares de views antes de ser retirado do ar, classificado como “desinformação”. Uma pesquisa realizada por ABC News/Ipsos, em maio, mostrou que um quarto dos norte-americanos se recusam a receber a vacina contra o coronavírus. Na Grã-Bretanha, um em cada seis habitantes disse que fará o mesmo, segundo levantamento do instituto YouGov em julho passado. E, amparada no medo e na incerteza, a desconfiança se repete pelo mundo. Se a campanha de imunização contra a Covid-19 não for abrangente e universal, cresce a possibilidade de uma nova onda de contágio e, para quebrar a corrente, basta que um elo se rompa. Por isso, é importante não haver dúvidas de que todos os cuidados foram tomados antes de apresentar a solução para um problema tão grave.

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