EDITORIAL

Máquina inchada

O poder público não pode continuar sendo fonte exclusiva de sustento


Publicado em 08 de dezembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Entre 1986 e 2017, a população brasileira passou de 138,5 milhões  para 209,3 milhões. Cresceu 51,1%. Nesse mesmo intervalo de tempo, o número de cargos públicos nos Poderes Executivos federal, estadual e municipal aumentou 115%. O Atlas do Estado Brasileiro 2019, divulgado na última sexta-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostrou que os 5 milhões de vínculos em 1986 se transformaram em 11,1 milhões em 2017.

Na década de 80, o funcionalismo no Executivo correspondia a 3,6% da população. Em 2017, essa proporção saltou para 5,3%. Nesses mesmos 30 anos, surgiram a internet, os smartphones, os computadores portáteis, máquinas mais eficientes para a limpeza urbana e a manutenção de pavimentos. Na maioria das situações, uma mesma atividade leva menos tempo ou requer menor número de pessoas para ser desempenhada a contento, devido a essas evoluções tecnológicas – sem falar no home office, regulamentado pela reforma trabalhista de 2017.

Será que o serviço público brasileiro está tão defasado em termos de ferramentas de trabalho? Qual a justificativa para esse inchaço da máquina? É legítima a reivindicação de boa parte da população de que parlamentares tenham salários menores ou sejam voluntários, como em outros países, ou de que o Judiciário perca regalias. Mas é preciso olhar, antes, para esses 11,1 milhões de servidores. Em geral, têm vencimentos acima da média do trabalhador brasileiro – R$ 2.223, segundo o IBGE. E certamente vão se aposentar em condições mais vantajosas.

Em muitas cidades pequenas, o Executivo municipal é o maior – senão o único – empregador. Porém, o poder público não pode continuar sendo fonte exclusiva de sustento, nem esse argumento pode ser usado a favor do empreguismo.

 

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