Não são só olimpíadas

O jargão “não é só futebol” é muito usado pelos fãs do esporte quando estes querem se referir a algo que extrapola a mera questão desportiva, como um torcedor que chora ao receber a camisa do ídolo. A mesma ideia se estende aos Jogos Olímpicos, especialmente aos de Tóquio, que acontecem em meio à pandemia.

Mais do que nunca, o maior evento esportivo do mundo vai além de um conjunto de competições de diversas modalidades realizadas ao mesmo tempo. Desde o treinamento dos atletas, adaptado às restrições, tudo faz o público se lembrar da crise sanitária global. 

Já na cerimônia de abertura, ontem, cada passo dentro do Estádio Olímpico remetia ao desafio sanitário que o planeta enfrenta. Quem olhasse para o lado de fora da arena veria grupos divididos entre a manifestação contra a realização dos jogos e a euforia pelo início do maior espetáculo esportivo do mundo. Uma síntese da dicotomia iniciada logo quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia, no dia 11 de março do ano passado. 

A falta de calor humano no evento oficial de abertura não pode ser vista como uma falha da organização, já que nem a mais avançada tecnologia é capaz de simular esse sentimento. Essa falta seria inevitável e até serviu para simbolizar o distanciamento social que dura há mais de um ano. Enfim, a cerimônia foi a possível diante do contexto mundial em que não convém falar em “festa”, mas em “solenidade”, em “homenagem” aos que estiveram na linha de frente do combate à doença.

Nas próximas duas semanas, ao lado da torcida pelo ouro estará a torcida para que chegue rápido o dia em que a contaminação por coronavírus esteja sob controle, tanto em Tóquio, que assiste a um aumento no número de casos, quanto em quase todo o mundo.