É natural que os candidatos eleitos estejam eufóricos com as respectivas vitórias. Talvez seja natural também que, como neófitos, eles exibam sua inexperiência no trato com a coisa pública e sua relação com a sociedade.
Não é natural, porém, que, na urgência de se destacarem, sejam “mais realistas que o rei”, como o governador eleito do Rio, que propôs o emprego de atiradores de elite para abater criminosos que estejam armados com fuzis.
Sentindo-se autorizados por seus líderes, essas personalidades subalternas encorajam-se a dar uma interpretação pessoal à legislação, extrapolando suas atribuições. Esse “modus operandi” caracteriza os regimes de exceção.
O governador eleito do Rio, Wilson Witzel, é ex-juiz federal e deveria saber que o que propôs durante sua campanha é ilegal. No entanto, ele foi eleito com mais de 60% dos votos válidos, o que dá a medida do apoio que tem.
A segurança pública foi tema predominante na campanha eleitoral. Sob intervenção federal, o Rio vive um ápice de violência social. Desde o início daquela, em fevereiro, já se registraram mais de mil mortes em confrontos.
Não obstante, atirar primeiro e perguntar depois é, pela lei, uma situação só admissível após declaração de estado de defesa (guerra) ou de sítio (exceção), com supressão constitucional dos direitos fundamentais.
Os policiais seriam levados a julgamento sem ter a seu favor o argumento da legítima defesa de si ou de outrem (nos casos de sequestro com refém), como ocorre hoje, quando a polícia já faz uso excessivo da força.
O governador diz que defenderia os policiais nos tribunais. Trata-se de uma afirmação para seduzir eleitorado – farto com a ineficácia dos governos no combate à criminalidade – com soluções baseadas na força.
Um dos grandes eleitores nesse pleito foi não só o antipetismo, mas também o discurso voluntarista, sem amparo na Constituição, que chegou a ser posta em xeque, quando ela é nossa única garantia de direitos.