EDITORIAL

O valor da democracia

O ano de 1964 é pedagógico para que se reconheça o valor da democracia


Publicado em 30 de março de 2019 | 03:00
 
 
 
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Depois de recomendar a comemoração do dia 31 de março de 1964, marco inicial do movimento civil-militar que resultou em 21 anos de regime de exceção no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro alegou que o que pediu foi que a data fosse rememorada.

A orientação gerou protestos na sociedade civil e desconforto nos militares, que hoje não estão tão comprometidos com aquele regime quanto as gerações mais antigas. Depois de 30 anos da Constituição de 1988, o seu vínculo é com a democracia.

Bolsonaro, no entanto, é saudoso do antigo regime, que derrubou o então presidente João Goulart sob a alegação de que ele estava conduzindo o país para o comunismo. Esse fantasma ainda povoa a mente do capitão, que frequentemente a ele se refere.

Trata-se de um assunto que, passado tanto tempo, ainda não está pacificado, devido, em grande parte, à resistência de setores que dele participaram, como os militares. Estes têm se recusado a discutir o tema, inclusive negando o acesso a informações importantes.

O fato de o presidente falar em “rememorar, rever o que está errado, o que está certo e usar isso para o bem do Brasil no futuro” pode ser auspicioso. Isso não é nada mais, nada menos do que o país precisa fazer para enterrar para sempre esse cadáver insepulto.

A Lei da Anistia perdoou os envolvidos de um lado e de outro, mas não os fez esquecer. Com apenas 11 anos na época, o presidente é um exemplo. Para ele, em 1964, não houve um golpe de Estado, embora um presidente eleito tenha sido destituído à força.

O que se seguiu foi um regime que se manteve duas décadas apoiado nos militares e que cometeu graves violações de direitos humanos. Constitui um exercício saudável e necessário os brasileiros rememorarem os eventos desse período pelas lições que contém.

O ano de 1964 é pedagógico para que se reconheça o valor da democracia.

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