O vírus do ódio

Quando o medo se encontra com a ignorância, o resultado não pode ser outro senão o ódio. Um sentimento que o surto de coronavírus, que já atingiu aproximadamente 30 mil pessoas na China, tem provocado contra asiáticos no Brasil.

Em São Paulo, um condomínio que abriga uma empresa chinesa proibiu que os funcionários dela usassem o mesmo elevador que os demais frequentadores, além de exigir o uso de máscaras e desinfetante, ainda que nenhum dos trabalhadores tivesse estado na China. Com a repercussão negativa, o administrador do prédio recuou.

No metrô do Rio de Janeiro, uma descendente de orientais foi hostilizada, chamada de “nojenta” e acusada de espalhar doenças no país. A mulher também não esteve na China.

E, se os agressores tivessem perguntado, descobririam que ela é brasileira e neta de japoneses – cujo país tem menos casos registrados que os EUA, e a maioria deles, isolados em um navio de cruzeiro de outra nacionalidade.

Neste fim de semana, está prevista a chegada a Anápolis dos brasileiros que estavam em Wuhan, epicentro do coronavírus. Antes mesmo que o voo decolasse, moradores da cidade goiana relatavam medo de ter que partilhar o mesmo serviço de saúde e o ar que os repatriados.

Uma preocupação inócua, já que não chegarão a vê-los até o fim da quarentena na base aérea. E, se algum dos que estavam na China desenvolver a doença, irá para o Hospital das Forças Armadas, em Brasília.

Em vez de dar vazão a atitudes xenófobas e preconceituosas, a sociedade deve se informar sobre os riscos e a profilaxia com autoridades médicas e, principalmente, exercitar a solidariedade e a empatia – únicos antídotos para a intolerância, uma doença que se espalha mais rápido e é mais letal que o próprio coronavírus.