As pelo menos 11 mortes nos protestos no Chile e a mobilização do Exército nas ruas mostram que a razão dos atos não são só os 3,75% de aumento do metrô. A referência às manifestações de 2013 contra o reajuste de passagens de ônibus no Brasil não é gratuita, há vários fatores em comum entre os dois movimentos.
Lá, como ocorreu aqui há seis anos, as lideranças não têm rosto nem um nome claro, jovens e estudantes tomam a frente das marchas de rua, e os discursos revelam uma profunda insatisfação com o sistema de representação política e sua incapacidade de lidar com a desigualdade econômica dominante.
O Chile, apesar de ser considerado um dos modelos de gestão na América do Sul, concentra um terço de toda a sua renda nas mãos de somente 1% da população – a fortuna pessoal do presidente Sebastian Piñera é estimada em quase 1% do Produto Interno Bruto da nação. Além do transporte, o custo da moradia subiu mais de 150%, a implantação do sistema privado de Previdência não cumpriu sua promessa de bem-estar, e seis de cada dez chilenos estão endividados.
Esses dados não são estranhos aos brasileiros, que vivem em um país onde o 1% mais rico recebe 34 vezes mais que a metade mais pobre da população, aproximadamente 64 milhões de pessoas estão inadimplentes e a desconfiança com o modelo representativo e o sistema partidário atinge as alturas.
Tanto aqui quanto lá, a violência e a força bruta não são a solução. O caminho passa pela sensibilidade às necessidades do cidadão de justiça social, voz, emprego e renda, além de serviços públicos de qualidade. Afinal, seja no Chile, no Brasil ou em qualquer país onde impera a desigualdade, cinquenta centavos, não importa a moeda, sempre farão toda a diferença.