Uma parte significativa da população lembra-se mais do 19 de Abril pelos trabalhos escolares do que pela relevância das questões sociais a ele relacionadas, mas o Dia do Índio deveria inspirar reflexões mais profundas sobre convivência e sobrevivência, dois temas essenciais nos dias atuais independentemente de etnia.

Os 3 milhões de indígenas que viviam no país em 1500 foram reduzidos a uma população de 896 mil – isso em 2010, os dados mais recentes apurados pelo Censo do IBGE e que ainda são referência inclusive nos sites da Funai e do Conselho Indigenista Missionário. Uma defasagem temporal que ajuda a perceber a invisibilidade dos povos originários em relação aos demais.

Desse grupo, pouco mais de 500 mil ainda vivem em terras consideradas indígenas. Um espaço estimado pela Funai em 117 milhões de hectares – equivalente ao tamanho da África do Sul. Mas, também segundo o órgão oficial, somente 2,27 milhões de hectares estão delimitados para a devida proteção prevista na Constituição.

A disputa por esse território é medida em muito mais do que hectares, riquezas minerais e vegetais. Só em 2019, 113 pessoas foram assassinadas em 256 casos oficialmente registrados de invasão de terras. No ano passado, em plena pandemia, o garimpo ilegal avançou 30% em território Yanomami em Roraima. Um movimento que aumentou a vulnerabilidade ao contágio pelo coronavírus. Mais de 50 mil índios contraíram Covid-19 desde o ano passado, e 1.038 haviam morrido até o último dia 15 de abril, segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil.

Enquanto a cobiça e o preconceito prevalecerem, essas mortes e o descaso com os índios permanecerão, e, àqueles que são brasileiros há mais tempo do que todos os demais nestas terras restará apenas o 19 de Abril.