Editorial

Renda corroída

Inflação, salários e endividamento


Publicado em 30 de agosto de 2021 | 03:00
 
 
 
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A inflação vem cobrando um alto preço do trabalhador. Com os custos em disparada e 14 milhões de brasileiros à procura de emprego, as negociações salariais não recompõem as perdas. Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), na prática, a remuneração corrigida pela média de julho valia menos do que há um ano.
E não é uma questão de comparação de índices percentuais. Do piso médio de R$ 1.345 no país, pouco sobra após comprar uma cesta básica que, em Belo Horizonte, chegou a R$ 549,49 no mês passado, de acordo com o Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos e Estatísticas (Dieese). Sem falar em despesas como conta de luz, combustíveis, transporte e moradia, que não param de subir.
Com menos dinheiro no bolso e gastos crescentes, a saída tem sido o cartão de crédito, cujos juros anuais de 312% ao ano são catastróficos. A Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostrou um índice recorde de endividamento de 72,9% no Brasil. Ou seja, 11,9 milhões de famílias chegaram a agosto com algum tipo de dívida. Delas, oito em cada dez estão com débitos no cartão de crédito, e com poucas perspectivas de encontrar recursos para quitar uma obrigação que só se avoluma. Afinal, justo para combater a inflação, a receita do Banco Central é inflar a taxa básica de juros.
Para o trabalhador, essa é a receita de um atoleiro sem fim, cujas consequências não se encerram em suas casas. De cada R$ 10 do PIB brasileiro, R$ 6 vêm do consumo das famílias, ou seja, R$ 4,4 bilhões, corroídos diariamente por esse círculo vicioso de inflação e juros, que dificilmente financiarão o necessário crescimento. Ou se quebra essa corrente nefasta para o cidadão, ou todos perderão. E muito rápido.

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