Substantivo feminino

O Dia Internacional da Mulher existe para lembrar a todos que, 113 anos após a sua primeira celebração, gênero ainda é considerado uma barreira real para o acesso à justiça social e econômica. Trata-se de um fardo que a pandemia se encarrega de tornar ainda mais pesado. 
Um relatório do Banco Mundial divulgado na semana passada constata que as mulheres têm acesso a apenas três quartos dos direitos legais concedidos aos homens. Quando se fala em trabalho e remuneração, menos da metade dos 190 países pesquisados impõe remuneração igual para atribuições igualmente executadas por mulheres e homens. Em 88 deles, há restrições de horário e funções para as trabalhadoras, o que as empurra às atividades mais afetadas pela pandemia, como serviços e hospedagem.
Somente até o terceiro trimestre do ano passado no Brasil, segundo o IBGE, 8,5 milhões de mulheres deixaram de trabalhar, seja pela eliminação do cargo que ocupavam, seja por outro fator de desigualdade: a responsabilização cultural pela gestão doméstica e pela família. De cada dez brasileiras brancas, quatro têm como principal ocupação cuidar da casa; no caso de pretas ou pardas, o índice vai para seis em cada dez.
Mesmo aquelas que conseguiram manter o emprego nesse período acumulam uma segunda jornada média de até 18 horas dedicados ao trabalho doméstico e à família – oito horas a mais que seus companheiros, como revela a Pnad.
Esses fatos, contudo, não devem promover o desânimo ou a entrega. Pelo contrário, devem servir de motivação para a luta ainda mais aguerrida pelo reconhecimento, pela descontinuidade da tradição de opressão e pela igualdade de direitos, independentemente de gênero, lembrando a toda a sociedade que, não sem motivo, força e coragem são substantivos femininos.