Torcida pela saúde

É inegável que o futebol desperta paixões no Brasil. E o torcedor, que por mais de 500 dias teve negado o contato físico com o objeto de seu desejo, entregou-se com volúpia no reencontro. Como explica o dicionário Aurélio, paixão é “sentimento ou emoção levados a um alto grau de intensidade, sobrepondo-se à lucidez e à razão”. É algo que ajuda a entender, mas jamais justificará o descontrole e o desrespeito às regras de controle sanitário no primeiro jogo com torcida no Mineirão após o início da pandemia.

Nas últimas duas semanas, a taxa de transmissão do coronavírus subiu 11 pontos em Belo Horizonte e, após quase um mês na faixa verde, voltou a ter índices superiores ao de 1 para 1 (um contaminado passando o vírus para uma pessoa saudável). Não há colapso hospitalar, mas o nível de ocupação das UTIs exige atenção, e a vacinação avança, mas está longe do necessário para a imunização coletiva.

Por isso, causa medo ver torcedores sem máscara, ignorando o distanciamento mínimo de um metro nas cadeiras, aglomerando-se em catracas, em torno do estádio e bares, bem como revolta constatar a ineficiência da aplicação dos protocolos, da orientação e da fiscalização pelas autoridades envolvidas. Atos que estavam distantes de qualquer noção de lucidez e razão.

Prefeitura, clubes e administradores do estádio vão se reunir para avaliar os erros e buscar maneiras seguras de a torcida estar nos jogos. Na esfera individual, cabe a cada um nas arquibancadas transformar a paixão em amor, “sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem” (dicionário Aurélio). Algo que todo torcedor sente quando vê seu time entrar em campo e bem se pode aplicar às pessoas ao seu lado, protegendo-as, para que todos comemorem juntos o maior título de todos: a vitória sobre o vírus.