Tragédia sem fim

Há cinco anos, a imagem de cerca de 60 milhões de metros cúbicos de lama e rejeitos de minério arrastando tudo em seu caminho ficou gravada na mente dos mineiros. E muitos se perguntaram quando isso teria fim. Infelizmente, o rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, em Mariana, é uma tragédia que não terminou.

Nas margens do rio Doce, a repórter Raquel Penaforte descreveu o brilho sobre a terra vermelha quando o sol bate. Os pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo, em estudo publicado neste ano, explicam que a concentração dos rejeitos de mineração não se reduziu na boca do rio de novembro de 2015 a julho de 2019. Já o morador ribeirinho Ronaldo Adriano de Souza descreveu de forma mais simples: – “É ferro.”

Porém, o metal não é o único rastro da pior tragédia ambiental da história do país. Para as 600 pessoas que viviam no distrito de Bento Rodrigues, devastado pela lama, a espera por um novo lar angustia. Previstas para serem entregues em março do ano passado, as casas no Novo Bento não estavam disponíveis no mês de agosto seguinte – data remarcada para a conclusão das obras – e não há certeza para eles de que poderão se mudar em fevereiro do ano que vem, quando está prevista a inauguração.

E, tal como as casas, a justiça para as vítimas permanece inconclusa. Dos 21 acusados pelo Ministério Público de serem responsáveis pelo rompimento da barragem, 15 já foram excluídos do processo. E 140 testemunhas de defesa nem sequer foram ouvidas até agora. E se estima que 54 mil famílias atingidas de alguma forma pela lama não tenham recebido indenização.

Mas não há sequela maior que a dor da perda de 19 vidas que pela necessidade ou pelo dever ficaram no caminho da lama de uma tragédia que poderia ter sido evitada.