Uma nova era de relação entre as gigantes de tecnologia e o mercado de mídia começou a ser desenhada na semana passada. A Austrália aprovou uma lei para que empresas jornalísticas sejam remuneradas pelo conteúdo compartilhado nas redes sociais. É uma decisão que, de pronto, já chamou a atenção de EUA, Canadá e União Europeia – pioneira na regulamentação das plataformas digitais.

Numa primeira reação, o Facebook chegou a suspender a divulgação de notícias em sua rede australiana, mas recuou, tendo anunciado um pacote de US$ 1 bilhão em investimentos em notícias nos próximos três anos. Apesar de considerar que o modelo aprovado naquele país é um risco aos negócios, o chefe de assuntos globais do Facebook, Nick Clegg, admitiu que “o jornalismo de qualidade está no centro de como as sociedades abertas funcionam”.

Trata-se de um passo significativo, uma vez que as empresas jornalísticas investem grandes volumes de capital financeiro e humano na produção de notícias que circulam basicamente sem custo e rendem receitas bilionárias para as chamadas “big techs”. Segundo o eMarketer 2020, esse grupo respondeu por 64% da receita publicitária digital nos Estados Unidos. Em moeda, isso significou uma receita de aproximadamente US$ 85 bilhões para o Facebook e de mais de US$ 150 bilhões para o Google.

Em 2019, o Conselho Executivo de Normas-Padrão no Brasil reconheceu que as big techs são “veículos de comunicação”, um passo importante para o reequilíbrio. Porém, ainda há um caminho longo para se alcançar a justa remuneração à produção jornalística no universo digital. Mas, ao fim, a sociedade só tem a ganhar com o acesso a informação de qualidade, precisa e valiosa para o desenvolvimento econômico e social.