Prefiro ser gentil a ser romântico. A gentileza é discreta e mais duradoura.

Sempre me pareceu que o romântico quer se vender externamente à relação: “vejam, todos, como sou incrível!”. 

O afeto performático flerta com o merchandising, prospectando novos parceiros. O exibicionismo costuma carregar contrabandos e segundas intenções.

Já o gentil empreende o inverso: o trabalho interno de valorizar quem o acompanha. Não é artimanha da vaidade, interesse de chamar atenção para si, apenas o propósito magnânimo de confortar o outro.

Tanto que, na cultura digital, cunhou-se uma expressão para assinalar as demonstrações de cuidado que não são espalhafatosas, mas que realmente se detêm no bem-estar da convivência: “micromance”.

O termo já diz tudo: “mikros” (pequeno), do grego, somado a “romance”.

São gestos sutis de carinho que mantêm viva a conexão entre duas pessoas, mais eficazes do que grandes declarações ou presentes caros.

É quem prioriza o café da manhã em casa, com mesa posta e farta, em vez de um jantar em restaurante.

Trata-se do popular e imbatível binômio “bom e barato”.

A tendência surgiu para se contrapor aos efeitos especiais do ideal hollywoodiano — faturas exorbitantes, viagens de surpresa, revelações públicas —, sublimando os exemplos íntimos, constantes, secretos que constroem a cumplicidade no dia a dia.

Seu repertório inclui:

— Enviar uma mensagem inesperada só para falar: “pensei em você agora”.

— Montar uma playlist personalizada com músicas que representam o momento do casal.

— Deixar um bilhete escrito à mão na bolsa, no espelho, na mochila. A caligrafia indica exclusividade.

— Decorar o café com um desenho na espuma. Ou o box do banheiro com alguma palavra traçada no vapor com os dedos. 

— Compartilhar um meme ou vídeo, para despertar as melhores gargalhadas.

— Lembrar-se de um compromisso importante e desejar sorte.

— Adaptar os horários para oferecer carona. 

— Não beber para ser o motorista da rodada. 

— Trazer algo do supermercado, além da lista de necessidades, que seu par adora.

— Reaquecer o prato porque sabe que ele sempre se esquece de comer.

— Reparar num detalhe da aparência e elogiar: “essa roupa é a sua cara”.

— Marcar a página do livro onde ele parou a leitura.

— Emprestar o casaco no cinema.

— Colocar a coberta quando ele dorme no sofá.

— Sair do quarto de manhãzinha sem fazer barulho.

Em nenhum dos atos, receberá recompensa. Talvez nem mesmo um agradecimento. Possivelmente, nem poderá contar a ninguém. Sequer será recordado. 

Não haverá medalha. Nem plateia. Nem manchete. Só o calor invisível das vidas enlaçadas. 

Pois não há maior realização do que a certeza incontestável da reciprocidade — amar e se sentir amado —, do que confiar plenamente em alguém, do que executar a coreografia espontânea, segura e longeva da admiração e do reconhecimento.