Quando pequeno, eu roubava da minha mãe as revistinhas de cosméticos para ler escondido no banheiro. Havia o estigma de serem proibidas para menino.
Enquanto meus colegas armazenavam gibis pornográficos, eu, ingenuamente, dedicava-me aos suspiros românticos dos folhetins das lojas.
A mãe assinava os produtos Avon e escolhia o que queria com círculos de caneta hidrocor vermelha.
O balcão da loja estava em casa, tangível e ilustrado para as donas do lar. A discrição e a privacidade protegiam o consumo. A publicação não chamava a atenção dos maridos para os gastos excessivos. Uma coisa era tudo chegar escandalosamente em sacolas e carnês; outra, silenciosamente pelos Correios.
A representante anotava os pedidos pessoalmente, de porta em porta, e esclarecia as dúvidas.
Existiam os vendedores de enciclopédia, que exploravam a aquisição do conhecimento, e as vendedoras do glamour, que nos seduziam com o acesso ao mundo da atração física. Os primeiros cuidavam da nossa alma intelectual; as segundas incentivavam os retoques na aparência.
Nos anos 1970, os catálogos correspondiam a pequenos manuais de desejo. Traziam não apenas os novos itens de maquiagem, mas uma atmosfera inteira de promessas de elegância, de modernidade, de mistério, de lábios sedosos e macios, de brilho no olhar, de unhas perfeitas.
Não me esqueço do bem-estar de folhear aquele papel esmaltado: tinha cheiro adocicado, de perfume embutido ali mesmo.
Cada seção exalava um pouco de talco, um pouco de colônia. Eu beijava as páginas como quem beija as bochechas de uma garota.
Eu me sentia transportado a um salão de beleza ao ver as capas onde mulheres sorriam discretamente, com seus cabelos volumosos e pérolas no pescoço. Foi a estreia do meu contato sensorial com o sexo oposto.
Delirava com os nomes poéticos dos perfumes: Charisma, Topaze, Occur!, To a Wild Rose, Sweet Honesty. Eu, que só usava um módico e insípido desodorante.
As frases me levavam para o pomar do elogio: “flores colhidas na hora”, “uma rosa que nunca murcha”, “o direito de ser”, “o frescor da primavera em seu rosto”, “ametista e nada mais”, “a fonte da juventude para sua pele”.
Os frascos ultrapassavam a condição de meros recipientes e se transformavam em objetos de decoração, para ostentar na estante da sala. Vinham em forma de cisne, gato, carro antigo, telefone.
Minha iniciação na moda começou desse jeito secreto. Tanto que, até hoje, preservo uma reverência às revistas de promoção. Não jogo fora. Para mim, não é um encarte comercial. Beatriz, minha esposa, não entende o apego. Pensa que não descarto por generosidade ao esforço da panfletagem – mal sabe a verdade.
Perco tempo comparando preços e analisando as ofertas.
Sou capaz de adquirir o que vejo pela frente. O que anseio profundamente é comprar de volta a minha infância.