Jamais entenderemos os desígnios de Deus. Nossa prima Cynthia acabou de dar a luz para suas gêmeas. Em seu momento de maior felicidade, quinze dias depois do parto, na plenitude de seus 42 anos, ela falece em consequência de um coágulo no cérebro, herança silenciosa de um acidente de carro em novembro do ano passado. 
 
Será que ela sobreviveu somente para conceber Sarah e Isabel, num esforço sobre-humano, numa proeza do amor?  Será que a sua alma carregou o seu corpo nesse intervalo de existência? 
 
Será que essa mãe apegada, movida pela sua fé incansável, pela sua crença além da aparente normalidade, apenas não sucumbiu naquela terrível colisão do seu veículo com um ônibus para garantir a sua gestação? 
 
Será que ela não abafou todo o sofrimento, todo o desconforto excruciante, para ver o rosto de suas crianças antes de morrer? 
 
Quem diz que ela não suplicou a Deus, por dentro de si, com o par de esperanças em seu ventre: me dê alguns meses, me leve mais tarde? 
 
Cynthia, então, com a serenidade da promessa cumprida, percebendo seus bebês agora em segurança, na proteção do pai Eduardo, ao lado da outra filha do casal, Stella, de 5 anos, seguiu o chamado inapelável da despedida. 
 
Não sei nada da vida, cada vez mais não sei nada da vida. 
 
Nós, os familiares, ficaremos acreditando que tudo poderia ter sido revertido antes, que o diagnóstico de suas enxaquecas e dores veio errado, que a tragédia poderia ter sido evitada com uma simples drenagem em tempo hábil. 
 
Como é duro o adeus de quem se dedicou tanto para a família. 
 
Meus sentimentos aos parentes e amigos. O enterro será no sábado (10/2) no Parque da Colina, em Belo Horizonte (MG). Horário: das 13:30 às 15:30.