A vaidade masculina é o trampolim da infidelidade. Para causar traumatismos amorosos numa piscina seca, vazia.
A aventura leva embora o caráter.
Poucos homens resistem ao ego sendo massageado, ao elogio artificial, à bajulação.
Seu desconfiômetro costuma dar bug. O homem pretende ser visto como único, gostoso, bonito, insubstituível e é capaz de pôr a perder um casamento sólido, cúmplice e amigo por um momento fugaz.
Uma das cantadas mais perigosas que recebi na minha vida foi assim:
– Você não é homem para ser de uma única mulher, isso é uma injustiça.
Juro que balancei, tonteei, pensei bobagem, pois era um flerte que acendia um holofote da tentação, deixava-me poderoso, incentivava-me a ter um harém.
Tratava-se de alguém que não somente aceitava dividir a cama com a minha esposa, mas também garantia que isso deveria ser uma regra, com a obrigação de estender o benefício para outras mulheres. Representava um cúmulo de tolerância, de submissão.
A adrenalina de um futuro caso durou pouco. Logo me lembrei do olhar de admiração que a minha esposa lança para mim. Aquele olhar que ninguém mais me oferece. Aquele olhar raro, fixo e úmido de quem confia plenamente em mim.
Aquele olhar devoto e castanho que me tem como exemplo. Nunca iria conseguir aquele olhar de novo, um olhar que é resultado de tudo o que superamos juntos.
O que são palavras de sedução perto da perenidade daquele olhar cativante e exclusivo?
Eu comecei a gargalhar, desandei a gargalhar, de nervoso, de besta, de idiota, de energúmeno por valorizar aquele flerte que comprometia a minha união de quase uma década.
Ela me questionou:
– Por que está rindo? Estou falando a verdade. É um desperdício você ser de uma única mulher.
Então eu respondi, já com a sobriedade do amor, porque o amor é sereno, jamais embriagado, jamais carente, jamais megalomaníaco, jamais arrogante, jamais egoísta.
– Você não tem ideia do que está falando. Pergunte para a minha esposa quem eu sou, quais os meus defeitos e minhas limitações, ela me conhece bem. E eu tenho que me esforçar diariamente para merecer a companhia dela. Sou homem de uma única mulher e preciso confessar: nem assim dou conta do recado. Toda mulher é uma multidão, toda mulher são várias dentro de si. Estar com ela é estar com suas inúmeras versões. Nunca fico entediado.
Apressei o passo para longe da soberba, não permaneci para acabar de ouvir os desaforos questionando a minha masculinidade.
Estava mais preocupado em como contar para a esposa o que aconteceu. Certamente, ela me perguntaria quem era a lambisgoia.
Tópicos relacionados
Faça login para deixar seu comentário ENTRAR