O silêncio não é opressor. As pessoas gostam das miradas reflexivas e longas. Apreciam o som do vento, a sinfonia da chuva, o barulho de existir nas calhas e nas beiradas dos gestos. Entendem que quando não há o que dizer é o momento de boiar nos pensamentos, de flutuar nas impressões, de nadar na própria correnteza da respiração.
Quando o mineiro está triste, fica em silêncio. Quando o mineiro está preocupado, fica em silêncio. Quando o mineiro está esperançoso, fica em silêncio. Quando o mineiro está com raiva, fica em silêncio. Quando o mineiro está confuso, fica em silêncio. Quando o mineiro está endividado, fica em silêncio. Quando o mineiro está afortunado, fica em silêncio.
São quietudes diferentes, mas sempre respeitadas. Não há urgência para ocupar as relações com as palavras, de ser importante matraqueando sem parar.
Meus melhores diálogos na terra de Drummond e de Pedro Nava foram olhando para alguma paisagem com a esposa, de mãos dadas, livre da necessidade de trocar impressões verbais. Repassávamos a surpresa e o bem estar pelo sorriso ou pelo movimentos das sobrancelhas.
Nas praças e nos parques cheios, a sensação é que todos estão juntos pescando, hipnotizados pela luz.
Interessante pensar nessa imagem: logo em um Estado que não tem mar, é como se houvesse o hábito de jogar as mãos para longe, num anzol imaginário. Em vez dos peixes, apanha-se o voo dos pássaros em seu esplendor alaranjado.
Acaba sendo o lugar onde os moradores mais se detêm no infinito e no horizonte, numa espécie particular de simbiose com a natureza.
O mineiro é mais calado não porque não tem o que falar, porém porque não precisa falar sempre para se sentir à vontade. Permite-se usufruir do direito de não se comprometer na hora que não tem certeza de seus sentimentos. Odeia voltar atrás, por isso se demora no ponto de partida. Recusa-se a expor ideias prematuras, da boca para fora, podendo magoar quem é valioso em seu dia a dia. Prefere a cautela a cicatrizes inúteis.
Nasceu com uma solidão madura dentro de si, distribuída em atividades independentes. Desde cedo na família é responsável por manter uma tarefa, seja lavar as vasilhas, seja varrer, seja cozinhar, seja cuidar dos irmãos menores. Não existe idade para começar a ser responsável.
O senso firme de disciplina desenvolveu nele uma mudez eficiente, de demonstrar o que é essencial mais pelas atitudes do que pelas promessas. Não corre o risco de jurar à toa. Fala pouco para fazer muito. Ganha o tempo que seria gasto com as frases no capricho de suas obrigações. Nem permanece se explicando, errou, retifica o comportamento. O pedido de desculpa é realizar melhor do que antes.
Não conheço um povo tão obstinado em ser feliz silenciosamente, não procurando chamar atenção de seus feitos com discursos prontos e vaidosos.
O temperamento taciturno é uma descrença absoluta à demagogia e um otimismo inveterado na força do trabalho para superar as adversidades.