Mineiro ama viajar para poder voltar. Ele só viaja para fazer saudade de casa.
Até o passeio curto de um final de semana fora já serve para remoçar o seu amor doméstico.
Às vezes, acho que ele faz questão de ter uma chácara para depois regressar à sua residência cheio de juras.
É aquele que volta de alguns dias longe e fica elogiando um por um dos seus ambientes, um por um dos seus objetos, um por um dos seus confortos, como se tivesse recém-comprado a própria casa.
Suspira pelos cantos:
“Não tem nada igual à minha cama”.
“Não tem nada igual à minha cozinha”.
“Não tem nada igual ao meu sofá”.
“Não tem nada igual à minha televisão”.
Sobram elogios para os latidos do cachorro, habitualmente endemoniado porque não para quieto.
Os rangidos das portas dos armários e o gotejar da pia viram música rancheira de apertar o coração de doçura.
Mentalmente, mineiro vive readquirindo a sua vida, lustrando o seu pertencimento.
No aeroporto, eu costumo observar famílias inteiras no setor de embarque, além da tradicional recepção no desembarque.
O parente está indo para Barbacena como se estivesse partindo para uma longa temporada em Miami. Há choro, bênçãos, conselhos, advertências e prevenções, um drama e um rosário inteiro que não parecem decorrer de um deslocamento intermunicipal.
Você, do lado de fora da situação, pensa que o indivíduo vai atravessar, no mínimo, o oceano Atlântico.
Se pudesse, a comitiva não soltaria a mão dele, passaria junto no raio-x e o acompanharia à porta da aeronave.
Mineiro também não abdica de buscar o seu afeto no aeroporto quando ele retorna da viagem. De um jeito estranho, contenta-se em aguardar, vai curtindo os bastidores do atraso dos voos, puxa conversa sobre o tempo, questiona com prazer o novo horário de pouso aos funcionários da Infraero.
Quanto mais longa a espera, maiores são os méritos da carona.
Com uma atenção extrema, experimenta cada minuto do tumulto, da expectativa e do suspense do portão automático se abrindo.
Existe uma disputa familiar para enxergar primeiro, entre os vultos ao longe, o integrante do seu clã se aproximando com o carrinho de malas, para reconhecê-lo antes de todos.
As crianças gritam por privilégios: “Eu é que vi!”. Bagagens são derrubadas. Povo pula nos ombros do passageiro. Confetes e balões antecipam aniversários. Cartazes entregam os apelidos.
É como arquibancada de estádio, é a torcida da saudade celebrando a chegada do seu reforço.
O regressante se assemelha a um exilado político após décadas distante de sua terra natal, mesmo que ele tenha embarcado anteontem.
Na caminhada ao estacionamento, os diálogos são simples, coloquiais e restauradores do ânimo.
– Está cansado?
– O carro se encontra logo ali.
– Sente fome?
– Deixei separada uma guarnição de frango com quiabo e angu.
São os cuidados de acolhimento que nos inspiram a nunca largar a pátria de Minas.