Em 8 de janeiro de 2023 acompanhamos, chocados, mas não surpresos, o resultado de tanto tempo tratando terroristas bolsonaristas como manifestantes pacíficos. Depois de tanta barbárie, anunciada, diga-se de passagem, fica a pergunta: quem paga a conta por essa selvageria?
Não se trata somente dos bens materiais destruídos no último domingo, mas, de toda boiada que passou pelas portas do Palácio do Planalto, do Congresso Federal e Supremo Tribunal Federal. Esta é uma ferida aberta na democracia brasileira que jamais será fechada.
Invasão do Capitólio
Tentando simular a invasão do Capitólio estadunidense de 6 de janeiro de 2021, bolsonaristas se organizaram pelas redes sociais e durante mais de uma semana, diante da inteligência brasileira, planejaram a “Festa da Selma” – em alusão à palavra selva. Códigos eram usados para falar desde o número de participantes necessários para o atentado, até a rota pretendida pelos bandidos que invadiram os prédios dos três poderes brasileiros.
Segundo informações da Agência Pública, a forma de comunicar utilizada pelos bolsonaristas foi copiada de Steve Bannon, ex-estrategista político de Donald Trump. Entre as mensagens era possível encontrar frases como “Selma vai ficar gigantesca” ou ainda “liberdade não se ganha, se toma”, e assim, com o conhecimento do poder público, se formou o maior episódio de selvageria e destruição desde a retomada democrática brasileira.
Governo do DF
O ministro da Justiça, Flávio Dino, em declarações ao longo da semana que antecedeu os ataques terroristas em Brasília, chegou a dizer estar trabalhando junto ao então governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, para coibir a organização terrorista que ameaçava a democracia e a integridade dos poderes.
No entanto, não foi o que vimos acontecer. Ibaneis, ao que tudo indica, de maneira deliberada, não empregou a força necessária para impedir que a tragédia se concretizasse. O governador que reconduziu ao cargo de secretário de Segurança Pública, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, permitiu que a polícia inclusive escoltasse os terroristas até a Praça dos Três Poderes.
Nós, que fazemos parte dos 99% da população brasileira de pobres, pretos, indígenas, povos tradicionais, trabalhadores e trabalhadoras, sabemos que existe polícia no Brasil. Em momentos emblemáticos da história, como as jornadas de junho de 2013, a luta contra a PEC do Teto de Gastos, em 2016, e as manifestações contra a Reforma da Previdência, em 2017, o Estado demonstrou sua excelência em coibir atos populares totalmente democráticos.
Não foi o que vimos quando terroristas atacaram a democracia. O governador do DF, que até aquele momento era a autoridade máxima para lidar com a situação, escolheu o lado do fascismo e, agora, além do afastamento determinado pelo ministro Alexandre de Moraes, deveria ser preso por sua inércia diante de todos os riscos que se apresentaram.
Destruição
Obras de arte saqueadas e danificadas, armas letais roubadas, gabinetes depredados e, pasmem, pessoas fazendo suas necessidades fisiológicas nas mesas dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Mais um ato daqueles e daquelas que, liderados por um homem que construiu sua carreira nacional atacando o povo brasileiro, não aceitam o resultado das urnas, negam a ciência e acreditam na tomada do poder pela barbárie. Este é o retrato fiel do bolsonarismo: o ódio à arte e à democracia.
Agora, pagamos a conta da conivência de políticos bolsonaristas: milhões de reais saindo dos cofres para reparos e o povo brasileiro saindo às ruas para demonstrar que seguiremos lutando em defesa da nossa jovem e frágil democracia.