Será que Jesus não matou a charada de que Ele poderia estar perdendo o seu tempo ao ir pregar o Evangelho para os que estão no Inferno (1 Pedro 3:18-20), pois é dito na própria Bíblia que a permanência de quem entra nele é eterna, ou seja, para sempre?
A culpa dessa “contradição” é originária de uma aprendizagem errada da Bíblia, sobre o que até já falamos, por alto, em outras colunas. Nesta de hoje, nós nos esforçaremos para deixar o assunto bem mais claro.
A pena não pode ser maior do que a falta, pois seria injusta, sendo inadmissível atribuirmos isso a Deus. Então, quando Jesus ensina no Sermão da Montanha (Mateus, 5: 26) a lei divina universal de causa e efeito, ou seja, que “ninguém deixará de pagar tudo até o último ceitil”, constante nas escrituras sagradas das grandes religiões, Ele quis dizer que as penas são temporárias, e jamais para sempre. Isso, porque, se assim fossem, seria injusto da parte de Deus, o que jamais se pode atribuir a Ele, pois sua justiça é de perfeição infinita!
Ademais, Deus não castiga ninguém. Afirmar que Ele castiga é um grande erro. Apenas funciona a já citada lei de causa e efeito, que é manipulada por nós mesmos. As palavras “castigo” e “castigar” vêm do verbo latino “castigare”, que significa purificar-se ou buscar a pureza, daí também a palavra “castidade”.
Mas o que aprendemos de errado da Bíblia, no sentido de que as penas infernais são para sempre? Foi na tradução das palavras em hebraico “olam”, do Velho Testamento, e “aionios”, do Novo Testamento. As duas estão relacionadas com o significado de duração do tempo e têm a conotação de tempo indeterminado, e não sem fim ou para sempre.
As palavras foram traduzidas para o latim, a língua do Império Romano, onde hoje está a sede da Igreja Católica, como “aeternum”, cujo significado é de tempo para sempre, diferente, portanto, de “olam” e aionius” antes referidos.
E foi assim que, depois dessa tradução para o latim, com sentido diferente dos citados originais bíblicos, aprendemos, erradamente, que as penas infernais são para sempre. Uma coisa é certa: os teólogos, embora com as melhores intenções, sempre agiram no sentido de provocar no povo um medo mortal de Deus, usando para isso exatamente as penas falsamente eternas do inferno.
E então Jesus estava certo quando, depois de sua morte, em espírito, foi pregar o Evangelho para os espíritos que estavam em acerto de contas com as penas infernais, com o que Ele demonstrou para nós que elas não são eternas, mas temporárias. Caso contrário, não teria sentido Ele ir pregar para os espíritos lá nos infernos! Teria surgido daí a ideia do purgatório?
(*) Com este colunista, professor de português e literatura aposentado, “O Espiritismo na Bíblia”, na TV Mundo Maior, e palestras e entrevistas em TVs no YouTube e Facebook. Seus livros estão também na Amazon, inclusive os em inglês e a tradução da Bíblia (Novo Testamento). contato@editorachicoxavier.com.br (Cássia e Cléia).