Este artigo está sendo publicado em um momento muito importante da política internacional contemporânea. Aparentemente encerrado o período mais crítico da pandemia, os representantes de diversos países voltam a se encontrar presencialmente em rodadas de negociações que deixam ainda mais claro o momento de grandes divergências entre os países em temas variados.
O presidente dos EUA, Joe Biden, foi um dos primeiros chefes de Estado a chegar à cidade italiana de Roma, onde se realizará a Cúpula do G20. Com menos de dez meses à frente da Casa Branca, o presidente da maior nação do mundo levou consigo uma mala pesada de assuntos que precisam ser debatidos com seus parceiros. Na abertura do evento, o chefe do governo italiano, Mario Draghi, enfatizou a urgência de que os países detentores das maiores economias do mundo estejam ajustados na busca por soluções multilaterais para problemas que lhes são comuns.
Como na maioria das vezes, o discurso é muito mais fácil que a dura realidade que se estabelece entre as nações. As relações entre Washington e Pequim estão cada vez mais sensíveis, o posicionamento da Rússia entre os países europeus é bastante controverso, a saída do Reino Unido da União Europeia já começa a apresentar os seus primeiros resultados negativos, e os temas ambientais polarizam duramente países desenvolvidos e países em desenvolvimento.
Os representantes da Rússia, da Arábia Saudita, da China, do México e do Japão anunciaram que participarão das reuniões remotamente por diversas justificativas que passam principalmente pela insegurança ainda existente ante o quadro de saúde coletiva. Especialistas afirmam que essas “ausências” podem dificultar a conclusão de temas relevantes da pauta como, por exemplo, a instalação do acordo de taxação corporativa que deve incluir mais de 140 países.
Ainda no continente europeu, na cidade escocesa de Glasgow, é realizada a COP26, que reúne diversos países para a discussão dos temas relacionados ao clima. A expectativa é que muitas divergências sejam apresentadas nesta reunião diante dos níveis de emissão de gases poluentes na atmosfera terrestre e a preocupação contínua, sobretudo dos países em desenvolvimento, com a sua produtividade em meio à grande crise econômica vivida por muitas regiões do planeta.
O presidente Biden, dono de um discurso de defesa do meio ambiente, buscará ser o líder natural dessas negociações, contrariando o seu antecessor que retirou o país das tratativas do Acordo de Paris. Há, portanto, uma série de debilidades internas que fazem do presidente dos EUA uma figura ainda sem grande representatividade entre os seus pares.
Importante lembrar que Biden está vivendo crises substanciais dentro do seu país com a queda de sua popularidade e com as grandes dificuldades em negociar com o Congresso e com o seu próprio partido, o que levou a tramitação do projeto de Orçamento nacional a manter-se estacionado nas últimas semanas. Ademais, o presidente está participando pela primeira vez de uma cúpula multilateral após a decisão de retirar completamente as tropas norte-americanas do Afeganistão, o que gerou discordância em diversas frentes dentro e fora do seu país.
Na pauta de reuniões, o presidente norte-americano deverá ainda explicar formalmente ao presidente francês, Emmanuel Macron, o motivo da venda de submarinos à Austrália e despedir-se da primeira-ministra alemã Angela Merkel, que deverá entregar o cargo ao seu sucessor em meio às incertezas relacionadas às investidas militares chinesas e os atritos militares pontuais entre os franceses e os britânicos.
Nestas mesas de discussão não faltarão, certamente, assuntos delicados para serem tratados e será o teste de fogo para a liderança dos Estados Unidos, especialmente do novo presidente que, diante do peso concentrado em sua figura, resolveu ir visitar pessoalmente o papa Francisco e pedir-lhe a sua bênção apostólica.