O mundo encontra-se quase paralisado. Não sabemos o que será do amanhã e quando voltaremos ao normal. A pandemia assola o mundo e o país de forma devastadora. Os governos, as empresas e as pessoas procuram soluções emergenciais para sobreviver aos enormes desafios. Passado o impacto inicial da pandemia, é hora de pensarmos numa estratégia mais ampla para tirarmos o país do buraco e iniciarmos uma longa jornada de retomada da economia e normalização da vida social.
Numa crise como a atual, é necessária uma visão sistêmica, abrangente e multidisciplinar. O princípio básico a nortear as ações é o respeito à vida humana em todas as suas dimensões, sem incorrer na falsa dicotomia entre saúde e economia. Aqui vale a regra: “Para cada problema complexo, há uma solução simples – e ela está errada”, atribuída ao ex-ministro Pedro Malan.
Para o Brasil, vislumbro três grandes prioridades na gestão desta crise de proporções mundiais: a) acompanhar, avaliar e aprofundar as ações nas áreas social, econômica e de saúde, para mitigar os efeitos da pandemia; b) criar um plano para retomada da economia, com cautela, segurança sanitária e visão de médio e longo prazo; c) instituir um grau mínimo de coordenação entre os Poderes e os entes federados, de forma a efetivar ações e políticas públicas de maneira eficiente.
Para a efetivação dessas prioridades, precisamos ter em mente que não existem respostas preconcebidas, sobretudo para problemas complexos e de difícil solução. Hoje, a exacerbação político-ideológica inverte a seta. Primeiro, temos a solução – “mais mercado” ou “mais Estado” – antes mesmo de sabermos qual é a real natureza do problema a ser solucionado. O resultado é uma interminável discussão, sem a resolução dos problemas concretos que afetam a qualidade de vida das pessoas. Precisamos de praticidade e sentido de urgência.
A coordenação de todo o processo de gerenciamento da pandemia, bem como suas consequências políticas, econômicas e institucionais demandam uma enorme capacidade de liderança, persistência, diálogo e senso de responsabilidade.
A história mundial nos apresenta exemplos de desprendimento de líderes que entenderam a gravidade do momento e seu papel diante dos desafios de seu tempo. Não se trata de abrir mão de princípios, valores e/ou ideologia. Trata-se de sinalizar a necessidade de encontro do país consigo mesmo e da imposição ética de colocar a proteção à vida acima dos interesses político-partidários, da ideologia e das brigas que dividem famílias, amigos e imobilizam a todos.
É preciso que nossos líderes assumam as suas responsabilidades, comportem-se de acordo com a estatura do cargo que ocupam e, sobretudo, sirvam de exemplo para que possamos reconstruir o país. Precisamos de estadistas, mas se tivermos ao menos líderes minimamente responsáveis já será um bom começo.
Thiago Camargo é advogado, especialista em políticas públicas e mestre em ciência política pela UFMG, sócio do Escritório Marcelo Guimarães Advogados e da Sinapse Consultoria e Projetos e diretor da Fumsoft–Sociedade Mineira de Software