“Dando-se apenas o pão, pode-se ajudar somente o indivíduo. O resultado será que, depois de algum tempo, muitos estarão novamente sem pão”. A frase é da revista “Lúcifer Gnosis”, em artigo assinado, em 1905, pelo vulcânico e genial Rudolf Steiner.

Trata-se de um fragmento da longa análise das relações do capital e do trabalho, da mediação do Estado, das ingerências políticas, procurando identificar no labor humano as razões dos insucessos de certos empreendimentos e do sucesso de outros. 

Steiner adentrou-se em temas econômicos fazendo uma análise moral e cármica da luta humana, subindo em camadas muito superiores àquelas usualmente limitadas aos lucros e às perdas financeiras, para finalizar que o sucesso depende da solidariedade e da harmonia nas relações humanas. 

Qualquer esforço na esfera material, por mais intenso que seja, deve-se dirigir ao crescimento do indivíduo, de suas potencialidades e da ampliação de sua consciência. É justo e necessário procurar melhores condições materiais, elas são fundamentais à superação da fome e das restrições de toda ordem prática. Terão, todavia, um valor universal só em função do que estimulam nos indivíduos. 

Um homem rico, mas moralmente indigente, pouco serve à humanidade. Será castigado pelo seu egoísmo e tropeçará constantemente. Sísifo carregando pedras. 

Não há riqueza e progresso com a exploração de seres desprotegidos ou intelectualmente desfavorecidos, nem se poderá impunemente aproveitar-se de alguém e pretender que ele cumpra uma tarefa com paixão, atenção e dedicação. O sucesso requer um “clima”, uma “finalidade” mais ampla, uma dose de utopia, de amor à humanidade. 

Poder-se-á alcançar rapidamente a riqueza pelo caminho da exploração, mas se exigirá um esforço desumano preservá-la dos ataques, das pressões externas e dos monstros que se criam ao seu redor. 

Porém, cuidado. Para Rudolf Steiner, já em 1905, era um erro acreditar no Estado filantropo ou imaginar que ele resolveria os problemas da humanidade. Acreditava que “partidos políticos se equivocam... baseando-se num conhecimento insuficiente da vida humana”, em especial quando prometem aos ignorantes o pão sem agregar componentes de educação e de crescimento moral. 

Continuando atual como nunca, a teoria de Steiner introduz o “espírito de integralidade”, o mesmo que leva as empresas mais sensíveis da atualidade a procurar a “função social” como norte de todos os seus esforços, como principal razão de ser e sobreviver.