Vittorio Medioli

Vittorio Medioli

Empresário e político de origem italiana e naturalizado brasileiro, Vittorio Medioli está em seu segundo mandato como Prefeito de Betim. É presidente do Grupo SADA, conglomerado que possui mais de 30 empresas que atuam em diversos segmentos da economia, como logística, indústria, comércio, geração de energia e biocombustíveis, além de silvicultura, esporte e terceiro setor. É graduado em Direito e Filosofia pela Universidade de Milão. Em sua coluna aborda temas diversos como economia, política, meio ambiente, filosofia e assuntos gerais.

O TEMPO

A trave e o cisco

Perder tempo em crucificar outros desperdiça oportunidades de “fazer, “realizar, dar resultados, plantar e colher

Por Vittorio Medioli
Publicado em 15 de agosto de 2021 | 03:00
 
 
 
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Alguém já viu uma pessoa que faz das queixas, lamentações e críticas sua principal tarefa? Se conheceu dez ou cem pessoas dessa categoria, deve ter-se apercebido de que raramente é pessoa realizada, vitoriosa, bem-sucedida, sincera, generosa, piedosa, respeitadora da verdade. Perder tempo em crucificar outros desperdiça oportunidades de “fazer”, “realizar”, dar resultados, plantar e colher. Pior, fabrica dificuldades ao ambiente, à sociedade, aos outros, para se locupletar. Ser do contra em qualquer oportunidade para empoderar-se pela obstrução, pela prevaricação, pelas ameaças. 

As atitudes de quem cobra direitos e se esquece dos seus deveres são, nos nossos dias, insuportáveis, quando se enxerga claramente que uma sociedade feliz se baseia na solidariedade, na ajuda recíproca, no respeito aos frágeis, aos jovens, aos idosos, às minorias. Como disse o Mestre Maior: “Não julgueis, para que não sejais julgados; porque com o juízo com que julgais sereis julgados; e a medida de que usais, dessa usarão convosco. Por que vês o cisco no olho do teu irmão, porém não reparas na trave que tens no teu? Ou como poderás dizer a teu irmão: Deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás claramente para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Mateus 7:1-5). 

O crítico “de profissão”, o palpiteiro incontido, o arruaceiro não serão necessariamente derrotados no primeiro embate, mas pagarão, breve ou tardiamente, com acréscimos e juros. 

Não se pode criticar nem o derrotado, pois as derrotas são necessárias para aprender, não devem ser recebidas como ofensa. São lições de vida a serem guardadas, são experiências e conhecimentos que engrandecem, no silêncio das reflexões, e não na arruaça das acusações gratuitas e das mentiras fabricadas. Existe no universo uma infalível lei cósmica (carma) que devolve ao remetente o que dele sair, bem com bem, mal com mal, julgamento hipócrita com condenação feroz. Quem tira das crianças o pão merece perder o dele. 

Quando era pouco mais que adolescente, e já me interessava pelo mundo dos adultos, buscava e aceitava algumas tarefas dos meus pais ou superiores. Procurava sempre não decepcionar, superar meus limites, dedicar-me ao desafio e costumava voltar com resultados além dos esperados, ou de forma honrosa. Não era a recompensa imediata que me importava, era ter “crescido” que pagava minha alma. 

Sempre tentei dar o melhor que podia – uma tendência que herdei em algum ponto do universo onde havia treinado anteriormente. 

Voltar de mãos vazias ou sem poder dizer “cumpri” não estava nas minhas características. Justificar a falta de resultado nunca serviu a mim nem a ninguém. 

Não precisava mostrar-me o melhor de todos, mas dar o melhor de mim era irrenunciável. 

A dedicação e talvez um pouco de boa inteligência herdada dos meus pais e dos exemplos deles me permitiram alcançar metas, até por mim, inesperadas. Minha mãe, falecida aos 95 anos, me deixou uma singela carta com caligrafia vergada e precisa que abri depois do enterro dela: “Obrigado por ter me dado tanta felicidade com aquilo que você fez e deixou de exemplo”. Depois disso qualquer crítica, qualquer ataque, calúnia perderam o sentido. A satisfação de minha mãe passou uma borracha e me deu mais responsabilidade ainda em honrar a alegria dela de poder dizer “sou a mãe dele...”. Venham os insultos como pétalas de flores. 

“Onde quer que você esteja e quaisquer que sejam as circunstâncias, procure apresentar um desempenho impecável”. Adotei essa regra “estoica” como primeiro mandamento. Em todas as atividades empreendidas, apesar de díspares, desafiadoras, inicialmente desconhecidas e longe da semeadura anterior, acabei por assumir o ônus. 

Quando outros voltavam lamuriando as dificuldades, a conjuntura, as portas que encontravam fechadas, mais me motivava tentar abri-las. 

Fui educado para entender tudo de trigo e de farinha de pão, bolos e macarrão, mas o destino me jogou em inúmeras atividades de logística, indústrias, bioenergia, editoria, esporte, construção. E uma das razões principais para isso acredito que seja não ter perdido tempo a invejar os outros, não ter perdido tempo a criticar, não ter inventado desculpas, dedicando todo o meu esforço aos resultados, e ter economizado tempo em comemorações.

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