Meus advogados concluíram que não é vedado a um pré-candidato escrever em jornal. Recomendam não abordar assuntos eleitorais, mesmo não sendo explicitamente proibido.
Apenas ele
Na sexta-feira e no sábado, a imprensa italiana repercutiu falas do ex-presidente Lula em relação ao asilo político por ele concedido a Cesare Battisti, mandando às favas o governo italiano por quase duas décadas. Isso apesar de o sujeito asilado ter sido condenado, por unanimidade, em todas as instâncias judiciais, por dois homicídios e participação em outros dois, nos anos 70, como membro de elite da facção Proletários Armados pelo Comunismo. Battisti confessou em 2019, enfim, a participação nos crimes a ele atribuídos, desfazendo qualquer dúvida.
Usarei trechos de artigos publicados em janeiro de 2009 e em janeiro de 2011, quando Lula, como último ato do seu governo, em 31.12.2010, concedeu asilo a Cesare Battisti no Brasil.
Em 2009 escrevi:
“As formas de sentir e praticar a democracia do povo da Itália se contrapõem às do governo Lula. A conquista da democracia plena custou à Itália guerras e rios de sangue.
Hoje a vida é coisa séria, mas no Brasil continua banalizada por 48 mil homicídios por ano (163 a cada dia), enquanto na Itália registram-se apenas 161 em um ano (0,4 por dia). Para cada 294 homicídios no Brasil, acontece 1 na Itália.
A Itália, em plena República democrática e parlamentarista, sofreu em quatro décadas a perda de 349 vítimas em atos de terrorismo. Ninguém ainda digeriu.
As mortes ocorreram não para derrubar uma ditadura, mas para derrubar uma democracia inconteste e subvertê-la com ditadura.
Cesare Battisti é (em 2009) considerado um monstro, um inimigo da pátria italiana, tanto pela esquerda como pela direita, uma escória, que nem sequer foi aceito pelas Brigadas Vermelhas. Ele não passa de um serial killer, doentio e antissocial, que age por vingança contra o sistema, contra inocentes e indefesos. Puniu com a morte dois lojistas, após alguns dias do ato de resistência a malogrados assaltos, consumados por sua facção terrorista. Outros dois homicídios foram contra policiais escolhidos a esmo.
O procurador da República Antônio Fernando de Souza aprovou, em abril de 2008, a extradição do italiano, classificando os crimes como homicídios premeditados, como as cópias dos processos italianos comprovam por testemunhas, documentos e delações de arrependidos da facção subversiva.
A lei italiana, uma das mais benevolentes e equilibradas da Europa, o condenou sem atenuantes, por unanimidade e em todas as instâncias de recurso.
Portanto, o gesto definido como de “soberania”, alegado no parecer do ministro Tarso Genro, para se contrapor ao procurador e justificar o asilo político, é mera covardia jurídica, ou, como sustentam os italianos, “uma ofensa”, que fere os familiares das vítimas abatidas estupidamente, num alegado plano de derrubar o regime democrático italiano”.
Já em 2011, após a concessão de asilo, assinada por Lula no apagar das luzes, publiquei:
“A grande maioria dos brasileiros não tem tempo para se inteirar do caso Battisti, fake-revolucionário que, na década de 70, envolveu-se em quatro assassinatos, que de político tinham muito pouco e de loucura e covardia uma overdose.
Battisti foi preso pela Polícia Federal em Copacabana, em 2004, numa ação conjunta das polícias italiana e francesa, mais a PF, no exato momento em que recebia ajuda financeira trazida do exterior por uma mulher francesa.
A portadora pertence a um clube intelectual (de romance noir) que abriga esquisitos restos de uma esquerda “caviar” com discurso antiburguês. Battisti, do papel de iletrado, se transformou na cadeia, de onde foragiu, em escritor do estilo policial noir. Nesses romances, o protagonista não é um investigador, mas é uma suposta vítima do “sistema”. Uma das características mais importantes do gênero é a qualidade autodestrutiva do protagonista noir. Este, além do sistema perseguidor, deve enfrentar os sistemas jurídico e político, que não são menos corruptos do que o criminoso. Ainda se arroga destruir outros personagens.
Battisti desde jovem já era antissocial; foi preso por assaltos em Roma, arrombando residências; em cárcere teve contato com as Brigadas Vermelhas, mas suas tendências psicóticas assustaram os próprios terroristas, que não o aceitaram em suas fileiras.
Com outros do estampo dele, acabou montando o exíguo grupo clandestino Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), que se sustentava assaltando pequenas lojas, intitulando-se de justiceiros da burguesia.
Caçado em toda a Itália, encontrou refúgio na França, no governo François Mitterrand, um inimigo da Itália, que visitou apenas uma vez em 14 anos de governo. Com a saída da Presidência de Mitterrand, em 1996, Battisti fugiu para o México e, após peripécias, chegou ao Brasil, em 2004, um ano após a posse de Lula.
A Justiça italiana o reconheceu culpado do assassinato de um agente carcerário, pai de três filhos menores. Foi executado por um, reconhecido como Battisti, que, abraçado a uma jovem mulher, fingia cobri-la de beijos até o militar passar por eles e receber seis tiros à queima-roupa pelas costas. Outro também foi fuzilado pelas costas ao sair de um almoço na casa da noiva. Era simples motorista da polícia antiterrorista italiana.
Mais dois comerciantes foram mortos, condenados pela PAC por terem respondido em legítima defesa aos assaltos dos terroristas. Dias depois, foram punidos por Battisti e seus cúmplices, que se fingiram fregueses ao entrarem nas lojas. Num desses episódios, no tiroteio sobreviveu o filho de 20 anos de um joalheiro. Alvejado na coluna, tornou-se paraplégico e o maior defensor da prisão de Battisti”.
Lula confiou num tresloucado parecer de Tarso Genro, difícil para qualquer um aceitar como minimamente razoável, que negou todas as evidências, provas, apelos da Justiça italiana, da comunidade europeia, do próprio governo e dos partidos de esquerda da Itália.
A imprensa por lá ontem detonou Lula, que pediu perdão pelo erro, dizendo que Battisti “enganou muita gente no Brasil”. Muita gente, na Itália, seria apenas ele.