A paralisação das aulas presenciais no ensino primário, que deverá cessar na segunda-feira, 2 de agosto – o sindicato dos professores permitindo –, gerou um problema ainda não visível, contudo devastador, para milhões de alunos, futuros adultos despreparados para enfrentar a vida. 

Com uma qualidade da educação muito abaixo da média dos principais países do planeta, o afundamento do ensino público (já que o privado voltou desde o começo de julho) recebeu um golpe de incalculável gravidade, que, mantendo-se a paralisação, ampliará a catástrofe educacional em Minas.  

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou, em sua última pesquisa voltada à educação, um ranking mundial de qualidade do ensino. Entre os 76 países avaliados, o Brasil ocupa apenas a 60ª posição. Em primeiro lugar, segundo a OCDE, está Singapura, seguido de Hong Kong e Coreia do Sul – todos esses, países do extremo oriente asiático; na última posição do ranking consta Gana, país do continente africano. 

O Brasil está mais próximo da cauda que da cabeça – ou do inferno que do paraíso – da educação. Isto se reflete numa insuportável e injustificada catástrofe social a nível de Estado e de país. Impacta o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que, desde sempre, anda de mão dada com a qualidade do ensino, e, por reflexo, causa lentidão dos desenvolvimentos pessoal e econômico. 

Educação insuficiente e de baixa qualidade, especialmente no âmbito do ensino público, colabora para abrir a distância entre classes abastadas e humildes, além de fomentar o desemprego e ampliar o número de desvalidos. O Estado deverá destinar altos valores do Orçamento Público para assistência de 50 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza (caracterizada quase integralmente pelo analfabetismo funcional). Não há para esta classe capacidade de se garantir a sobrevivência, que continuará triste e sofrida. Entretanto, com uma boa educação, será possível permitir a essa população encontrar por si só oportunidades de interagir e se inserir na sociedade, além de, desta forma, satisfazer autonomamente suas necessidades e alimentar sua autoestima e seu equilíbrio. 

Deve-se destacar também os gastos ingentes em saúde com uma população exposta aos riscos da pior insalubridade: a miséria. 

A qualidade da educação proporciona diretamente qualidade de vida e garantia de autossustentabilidade e fomenta acentuadamente os desenvolvimentos social, econômico e civilizatório, como se encontram nos países do Sudeste Asiático, primeiros do ranking de qualidade educação. O atraso em países da América do Sul, como Brasil (60º), Argentina (62º), Colômbia (67º) e Peru (71º), afundou suas raízes na baixa e desconfortável qualidade do ensino. 

A relação direta de causalidade é incontestável: mais educação significa mais crescimento civilizatório. 

Com os últimos dois anos praticamente perdidos, sem aulas presenciais – já que o ensino público remoto atingiu apenas 35% da população escolar, justamente aquela que tem o “luxo” da conectividade –, caminha-se para um desastre educacional. 

As aulas presenciais, além de imprescindíveis nessa faixa etária, são razão de esperança para as famílias mais carentes alcançarem outros patamares de bem-estar através de filhos preparados para a vida. 

O viés sensacionalista que circula nesta altura da pandemia gera fortes temores entre os pais de alunos. Uma sondagem apresenta uma divisão entre pais: uma metade querendo que os filhos retornem e outra que ainda alimenta temores de liberar seus filhos e prefere que eles permaneçam em casa. 

O dever de dar a possibilidade de uma decisão consciente aos pais passa por uma análise à luz dos números reais do contágio entre alunos de 6 a 14 anos, já que os trabalhadores da educação, aqui, em Minas Gerais, receberam ao menos a primeira dose da vacina – AstraZeneca ou Pfizer, que atestam um grau de imunização de 78% e 85%, respectivamente. 

Em Betim o setor de ensino fundamental, ou seja, de 6 a 14 anos, consta de 52 mil alunos, ou 2,1% da população nessa faixa etária em Minas Gerais. Nesse grupo, desde o início da pandemia, registraram-se três casos de óbitos. Desses, dois estão associados a graves comorbidades: uma jovem de 14 anos que recebeu transplante de coração em São Paulo e contraiu a Covid enquanto aguardava, internada, um segundo transplante; e outra, de 12 anos, que contraiu a Covid durante internação em hospital de Belo Horizonte, internada em estado de leucemia linfoblástica aguda. Há também o caso de um menino de 8 anos que faleceu num hospital de Contagem de hemorragia pulmonar, aparentemente sem comorbidades. 

Disso se deduz que ocorreu um só óbito, entre 52 mil alunos, associado a uma procura não tempestiva do sistema de saúde. 

Se o risco à vida é de uma morte em 52 mil vidas nessa faixa de idade, para os alunos do último ano do fundamental, de 14 anos, a perda das aulas presenciais de 2020 e 2021 ampliará o injustificável índice de analfabetismo funcional nessa fase, que coincide com a saída do sistema fundamental. Uma catástrofe que deve ser evitada para não destruir oportunidades de jovens que ficarão em segundo plano e sujeitos à marginalização. 

Parece, portanto, redundante reafirmar a imprescindibilidade do retorno às aulas e fazer um apelo ao bom senso e à consciência de todos que possam, direta ou indiretamente, ajudar na missão de preparar os jovens para a vida, especialmente os mais carentes e necessitados.