O esporte, uma atividade física recreativa e de preparação para as guerras, era praticado pelos homens já em épocas remotas. Os gregos geraram inúmeras práticas para desenvolver aptidões de jovens e guerreiros. Quanto mais preparados, mais sucesso teriam na defesa de seus Estados e cidades. Era uma questão de defesa nacional.
Desde o ano 776 antes de Cristo se realizavam jogos com a participação de todas as cidades da Grécia na cidade de Olympia, sob a proteção dos deuses.
Os vencedores de cada modalidade, como arremessos de peso, de discos e de lanças, lutas corporais, corridas de cavalos ou de homens, recebiam uma coroa de louros, homenagens e glória no retorno à pátria.
Em alguns fragmentos de textos e desenhos se vislumbrava também a prática de jogos com algo que se assemelhava a uma bola. Diminuindo as guerras e se firmando uma relação mais pacífica entre os povos do mundo, difundiram-se jogos sem viés militar. As práticas esportivas foram influenciadas também pelas artes e pela beleza.
Disso centenas de modalidades entraram no cotidiano e se incorporaram às Olimpíadas modernas. Sem dúvida, a que mais chama a atenção, entre todas, é o futebol, que da Inglaterra do século XIX se espalhou pela Europa e migrou no século XX para todos os continentes.
Cresceu fantasticamente, atraiu enorme interesse e capitais, migrando do status de esporte de diletantes para o profissionalismo regiamente remunerado com atletas que ganham centenas de milhões de dólares por ano e clubes que isoladamente movimentam bilhões de dólares.
Até a década de 60 as equipes que disputavam os principais torneios eram formadas por atletas que dividiam uma profissão principal com a atlética. Os jogos se davam apenas aos domingos.
Na Europa o futebol é um setor de negócios, que faz girar mais de € 1 trilhão, em direitos televisivos, ingressos, roupas, passe de atletas, propaganda, apostas. Mais de cem canais de rede a cabo transmitem sem parar notícias para um público de torcedores ávido por informações.
Trata-se assim de uma das principais atividades econômicas do mundo, com tendência ainda a se expandir.
Como disse o sociólogo Domenico de Masi em seus tratados sobre o “ócio criativo”, as máquinas substituem o esforço físico e repetitivo, a informática se encarrega de resolver problemas com mais eficiência e rapidez que multidões de seres humanos, e a humanidade, que trabalhava mais de 60 horas semanais na década de 50, em breve terá a jornada reduzida pela metade. Agricultura e indústria, que há 60 anos ocupavam 85% da massa trabalhadora, passaram a ter apenas 20%. Os serviços e o setor de diversões artístico-culturais, e os esportes, passaram a se expandir geometricamente.
Os setores de diversões e de esportes empregarão exércitos de pessoas, seja por uma questão de saúde pública, como para atender uma demanda de entretenimento, até para idades mais avançadas nas modalidades que não requerem esforços excessivos.
O Brasil, como de regra, está em grave atraso nos preparos para essa era de profundas transformações. A principal modalidade, o futebol, não se adequou, fica à mercê da improvisação e da exploração, das mazelas, da corrupção e de organizações criminosas que tomaram de assalto não só o Cruzeiro, mas quase todos os clubes.
Protegidos pela “paixão” de imensas torcidas, mais que pela razão delas, os principais clubes do Brasil acumulam dívidas tributárias impagáveis, que transformaram em milionários seus dirigentes e asseclas.
Gravíssima é a situação, já que não há uma via jurídica e legal para os clubes se desfazerem da delinquência que os engoliu.
Neste momento, a intervenção judicial, acompanhada pelo MP, poderia dar o caminho dos recursos desviados, doa a quem doer. Dirigentes, agentes, intermediários, fornecedores, empresas de fachadas, uma sofisticada rede internacional que fabrica dívidas monumentais, agiotas disfarçados de banqueiros precisam ser identificados. Ficou tão fácil se enriquecer que o setor atraiu organizações criminosas, traficantes e sanguessugas.
O cofre do Cruzeiro é uma caixa sem fundo. Comprar camisas é como colocar recursos num vaso sanitário com a válvula em disparada. Levará tudo para as baratas.
O Brasil destaca-se por estar na vanguarda mundial em número de atletas praticantes, de taças e, tristemente, no atraso estrutural.
Precisaria dar um curto prazo para os clubes separarem suas atividades competitivas e transformá-las em empresas por ações com acesso de compra aos torcedores. Dessa forma, a venda de imóveis, a recuperação dos desvios e um parcelamento das diferenças em longo prazo, com sequestro de parte da renda futura, garantiriam rapidamente o estabelecimento de um sistema sustentável.
Existe, contudo, uma enorme resistência interna nos clubes, para mudar para empresas, pois os grupos dominantes (lobos em pele de carneiro), quase sempre os mais organizados na exploração da fragilidade institucional, não concordam. Quem sofre assim é o torcedor, e o Brasil inteiro, que deixa de contar com uma atividade econômica dispensadora de oportunidade com enorme reflexo econômico e social.