A mais recente agregada responde pelo nome de Joyce Moreno. Mas é possível que, pelo caminho, Brasil afora, outros voluntários endossem a proposta de render tributo a um dos maiores ícones da MPB, Luiz Eça (1936-1992), um dos pilares do antológico Tamba Trio. No caso da capital mineira, Joyce se une a Toninho Horta, Zé Renato, Dori Caymmi e a um dos herdeiros do homenageado, Igor Eça. O espetáculo “Em Casa com Luiz Eça”, que aterrissa no palco do Sesc Palladium, na próxima quarta-feira (29), integra o Projeto Mesa Brasil Musical.
 
O repertório aposta na lavra autoral daquele que se tornou mais conhecido pelos seus arranjos e pela destreza ao piano. São composições como “Mestre Bimba”, “Dolphin The”, “Alegria de Viver”, “Oferenda” ou “Tamba”. As músicas, vale lembrar, foram reunidas no disco homônimo, lançado recentemente pela gravadora Biscoito Fino – no caso, o CD traz Edu Lobo, que não pode vir a BH.
“Na verdade, toda essa história começou ano passado, com a vontade de fazer o show para marcar os 80 anos de nascimento do meu pai. Mas, daí, a Biscoito Fino abraçou o projeto e pintou essa história do CD, que abençoou tudo”, festeja Igor. O nome “Em Casa” espelha o espírito que reinava na residência dos Eça, no Leblon.
 
“Para você ter uma ideia, eu e meus irmãos não queríamos sair da sala! Ao fim, minha mãe sempre falava: ‘Ok, já entendi’, e levava um colchão que a gente tinha pra lá. Dormíamos embaixo do piano”, rememora, divertido. Vinícius de Moraes era um dos frequentadores assíduos, assim como Francis e Olívia Hime, Edu Lobo e muitos outros. “Era uma das casas da Bossa Nova. E o papai era generosidade pura. Sempre chegavam os novos e ele mandava sentar, dizendo: ‘toca aí’”, diz Igor.
 
De certa feita, Vinícius apareceu mais cedo. E ficou instigado ao ouvir a melodia que Luiz Eça executava ao piano, observando se tratar de uma peça triste. “Meu pai, então, disse que estava se separando da minha mãe, Lenita”. Eça teria dito: “Estou fazendo um adeus”. O poetinha rebateu: “Isso não é um adeus, é um quase adeus”. E, na sequência, tratou de aproveitar um papel qualquer para letrar a melodia. Acontece que, durante a madrugada, o papel se perdeu. Diante dessa história, contada por Francis Hime, Igor resolveu procurar um compositor que poderia estar à altura de Vinícius. 
 
À cabeça de todos, acorreu o nome de Paulo César Pinheiro, e eis que “Quase Um Adeus” finalmente ganhou seu texto. Mas não só. Paulo César revelou algo que a maioria desconhecia: duas semanas antes de Eça morrer, os dois estavam justamente combinando uma parceria – Paulo César já havia inclusive enviado algumas letras para ele. 
Envolvido em coragem, Igor propôs musicar uma das composições de Paulo César, e daí surgiu “Menino da Noite”, que está no disco e no show. 
 
 
Ao mestre 
 
Zé Renato, um dos convidados do projeto, lembra que conviveu pouco com Luiz Eça. O suficiente, porém, para se dar conta do privilégio. “Acredito que a importância dele já está muito clara para quem acompanha a música brasileira, muito explícita. Não convivi muito com ele, mas o pouco resultou em momentos marcantes, tanto de presenciar um show do Tamba como de ele participar de um disco do (grupo) Boca Livre. Ou de eu ir ao Chico’s Bar, na Lagoa, onde ele convidava a se sentar, ao piano. Nós, mais jovens, ficávamos vendo-o ensinando sem saber que estava ensinando. A lembrança é a da alegria no olhar. Ele, emocionado com os acordes acontecendo. Essa convivência sempre rendeu momentos muito especiais, que guardo até hoje, como aprendiz. Eça não compôs muita coisa, mas foram coisas belíssimas”, atesta.
 
Em Casa com Luiz Eça
Sesc Palladium (av. Augusto de Lima, 420, centro). Dia 29 (quarta-feira), às 21h. Regras para retirada de ingressos no site: sescmg.com.br