Uma nova cara (e espécie) para a biografia musical

Já faz tempo que as cinebiografias de músicos parecem seguir um manual rígido. Infância difícil, sucesso meteórico, vícios, redenção — tudo embalado por hits nostálgicos. Mas Better Man – A História de Robbie Williams, recém-chegada ao Prime Video, nos conduz por um caminho diferente, porém interessante.

Sob direção de Michael Gracey (O Rei do Show, 2017), o longa reconta a vida do cantor britânico... com um detalhe curioso: Robbie é interpretado por um chimpanzé de CGI, em versão antropomórfica. 

Por que Robbie Williams é um macaco no filme Better Man?

A escolha soa absurda à primeira vista, mas o próprio artista justifica como metáfora para sua sensação de ser “menos evoluído” que os outros. 


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Sinceridade como diferencial

A narrativa acompanha a trajetória do cantor desde a infância, passando pelo estrelato com o Take That até sua carreira solo. Mas o verdadeiro foco está nas inseguranças profundas e na auto sabotagem que sempre o acompanharam.

Em busca constante da aprovação do pai e tentando escapar do rótulo de “perdedor”, Robbie se revela uma pessoa obcecada pela fama, porém instável — alguém que afastava pessoas, desperdiçava oportunidades e mergulhava nos vícios.

O diferencial é que o próprio artista narra e coescreve essa versão, o que confere ao filme uma honestidade crua e direta. Essa biografia não tenta transformar o protagonista em herói, mas oferece um espaço para que ele reflita sobre suas falhas e reconheça que nem sempre foi alguém fácil de lidar.

Visual inovador e estilo que prende

Better Man não surpreende apenas pela premissa inusitada, mas também pelo impacto visual. Os efeitos especiais (indicados ao Oscar) transformam as sequências musicais em verdadeiros videoclipes surreais, com cenários vibrantes e transições dinâmicas que capturam a atenção do espectador.

A escolha ousada de representar Robbie Williams como um chimpanzé antropomórfico logo se torna natural. O realismo e a intensidade do protagonista fazem com que, com o tempo, você quase esqueça que está acompanhando um personagem não humano, mergulhando completamente na história.

 A versão criança do chimpanzé Robbie Williams. Crédito: Paramount Pictures/Divulgação


Nem tudo funciona

Apesar de seus acertos, Better Man tropeça em alguns pontos. A comparação com Rocketman (2019), aclamada cinebiografia de Elton John, é inevitável (e, em parte, até lisonjeira). Mas também evidencia uma certa falta de originalidade na abordagem narrativa para muitas tramas.

Tudo bem que os dois artistas podem ter histórias semelhantes, mas é curioso como ambas as biografias têm:

  • Relações conturbadas com pai ou mãe;
  • Abordagem surrealista nos momentos musicais;
  • Reconhecimento de atitudes questionáveis dos próprios;
  • Vícios que os afastam das pessoas, e
  • Reabilitações que servem como caminho para o encerramento da história;


Encerramento que inclusive acaba se tornando o maior problema. O filme acelera justamente quando deveria desacelerar: tramas emocionais mais densas, como a relação de Robbie com sua mãe, são apenas sugeridas, sem o desenvolvimento que mereciam. A sensação é de que a forma, por vezes, engole o conteúdo, e isso dilui parte do impacto emocional construído até ali.


Vale a pena assistir Better Man?

Apesar dos problemas apontados, Better Man é uma experiência que vale a pena, principalmente para quem já se cansou da fórmula padrão das cinebiografias. Uma boa pedida também para quem já gosta, ou quer conhecer mais da discografia do cantor. 

Onde assistir?

Better Man – A História de Robbie Williams já está disponível no Prime Video.

 


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