O remake live-action de Branca de Neve é um dos filmes mais polêmicos dos últimos anos. Antes mesmo de sua estreia nos cinemas, o longa dirigido por Marc Webb já acumulava anos de críticas por escolhas criativas da produção. Grande parte das discussões girava em torno de possíveis mudanças na trama, no elenco e na abordagem de certos temas.
Ao assistir ao filme, porém, o que se vê é uma adaptação que segue, quase passo a passo, a história da animação original — com adições que deveriam servir para dar mais corpo ao enredo.
Mas é necessário contextualizar o que levou este remake ao cenário caótico com o qual foi recebido.
Leia também:
+ Mufasa: O Rei Leão — Disney aposta em jornada de origem, mas não foge dos clichês dos prequels
+ Lilo & Stitch ganha remake live-action que mantém fofura, mas carece de frescor
+ Capitão América: Admirável Mundo Novo — Uma colcha de retalhos de ideias e receios
+ A Verdadeira Dor: um retrato sensível sobre luto, ressentimento e reconexão
Cenário conturbado
Tudo começou com a escolha de Rachel Zegler para viver a princesa Branca de Neve. A decisão gerou críticas por parte de fãs mais conservadores, que apontaram a diferença entre a etnia da atriz e a descrição original da personagem.
Além disso, a escalação de Gal Gadot como a Rainha Má também chamou atenção, com comparações inevitáveis entre a beleza das duas atrizes — um tema central na narrativa.
Outro ponto delicado foi o posicionamento de Peter Dinklage, ator com nanismo, que criticou a Disney por continuar com a representação dos anões como alívio cômico. A fala dele abriu um novo debate, com outros atores da comunidade discordando e apontando que a mudança poderia reduzir as já escassas oportunidades de trabalho.
Como resposta, a Disney anunciou que os sete personagens seriam criados por CGI, o que também dividiu opiniões.
Refilmagens, greves e uma divulgação atrapalhada
Com a pressão das redes sociais, a Disney optou por fazer diversas refilmagens. Para piorar, a greve de roteiristas e atores em 2023 atrasou ainda mais o lançamento.
Para completar o cenário, as falas de Rachel Zegler sobre a necessidade de "atualizar" a história original e o contexto político envolvendo as duas protagonistas (com Rachel Zegler assumidamente pró-Palestina e Gadot com histórico ligado a Israel) acabaram dificultando ainda mais a estratégia de marketing do estúdio.
Uma proposta que tenta expandir, sem comprometer a essência
O longa é um musical de fantasia que faz uma releitura da primeira animação da história da Disney e do cinema. No geral, é basicamente a mesma história, com algumas adições de cenas e músicas para aprofundar os personagens e a trama.
O roteiro faz pequenas alterações para adaptar o enredo ao público contemporâneo, mas sem grandes rupturas. Há um esforço em criar mais identidade para o reino, além de dar um papel mais simbólico para a princesa. Aqui, Branca de Neve não é apenas uma dona de casa ingênua, mas uma figura que representa uma ameaça real à Rainha Má, podendo inspirar uma insurreição entre o povo.
Ao contrário do que muitos sugeriram nas redes sociais, o filme não transforma a história em algo irreconhecível. As adaptações feitas não retiram o carisma nem o tom de romance da trama.
A essência permanece: uma princesa boa, que foge de uma tentativa de assassinato a mando da madrasta, encontra abrigo em uma floresta encantada e faz amizade com os anões que ali vivem. O tema da inveja da rainha pela pureza de espírito de sua enteada também continua central — e acaba sendo sua ruína.
Alterações mais consideráveis
As duas principais diferenças estão no papel do príncipe e no desfecho.
A primeira é a repaginada no personagem do Príncipe Encantado. Aqui, o filme apresenta Jonathan (Andrew Burnap), uma espécie de Robin Hood que, junto de seu bando, luta para combater a tirania da rainha.
Já o final abandona a solução rápida da animação original — com a rainha (agora em forma de bruxa) caindo de um penhasco. O beijo que desperta a princesa acontece antes do terceiro ato, transformando o desfecho em uma revolução liderada por Branca de Neve contra sua madrasta.
Mesmo assim, um filme repleto de falhas
Apesar das boas intenções, o filme tem problemas. O mais visível é a simplicidade da narrativa, dos figurinos e algumas conveniências de roteiro (principalmente no encerramento). A montagem, prejudicada pelas sucessivas reescritas, apresenta momentos em que a história parece estacionar para compilar ideias introduzidas posteriormente.
O maior exemplo dessa montagem inconsistente é a trama envolvendo Jonathan e seu grupo de rebeldes. Todas as suas cenas parecem vir de um projeto diferente, que inclusive incluía um plot sobre o resgate do antigo rei em uma terra distante.
Outro problema é a falta de direção das atuações. Cada ator parece atuar em um tom diferente. Enquanto Zegler sofre mais com figurino, penteado e a dificuldade de contracenar com personagens feitos em CGI, Gadot parece até se divertir como vilã, ainda que sua performance seja muito rígida e forçada. O mesmo vale para vários coadjuvantes.
Com um elenco numeroso, o filme tem dificuldade em dar função narrativa para todos os personagens. No clímax, nem os rebeldes nem os anões têm papel relevante além de preencher o cenário.
Falando nos anões, o CGI usado para criá-los é, talvez, o ponto mais divisivo. Embora seja possível se acostumar, o visual fica perigosamente próximo do chamado "vale da estranheza", o que pode prejudicar a imersão.
Balanço final
Mesmo com os tropeços, é importante lembrar que o público-alvo da produção continua sendo o infantil. Isso não justifica os problemas, mas explica o tom leve e a escolha por uma narrativa direta, com músicas, humor e momentos de fantasia que funcionam para quem busca um filme em família.
Se a ideia é assistir a algo despretensioso, um conto de fadas levemente alterado, o novo Branca de Neve cumpre seu papel. O segredo é ajustar a expectativa e não esperar muito. Não é o pior remake live-action da Disney, mas está longe de ser o melhor.
Onde assistir?
Branca de Neve já está disponível no Disney+.
Conteúdo relacionado:
+ Branca de Neve: live-action com Gal Gadot e Rachel Zegler chega ao streaming após fracasso nos cinemas
+ Após fracasso de Branca de Neve, Disney cancela novo live-action
+ Filho de John Lennon detona Rachel Zegler por Branca de Neve: "Mimada"
+ Rachel Zegler é acusada de prejudicar 'Branca de Neve' ao se posicionar a favor da Palestina
+ Disney acredita em fracasso de Branca de Neve
Confira a análise em vídeo: