Vitória, novo longa dirigido por Andrucha Waddington e pelo saudoso Breno Silveira, é um drama que mistura indignação, humanidade e emoção — e tem na atuação de sua protagonista o seu maior trunfo. Aos mais de 90 anos, Fernanda Montenegro sustenta um filme inteiro com uma força impressionante.
Uma história de resistência e coragem
Inspirado no livro Dona Vitória Joana da Paz (2016), de Fábio Gusmão, o filme conta a história real de Dona Nina (Fernanda Montenegro), uma senhora que, inconformada com a crescente violência no morro próximo à sua casa e com o descaso da polícia, decide agir por conta própria.
Como solução, ela usa suas economias para comprar uma câmera de vídeo e passa a gravar, da janela de seu apartamento, os crimes que presencia diariamente.
Essa atitude desperta a atenção do jornalista Flávio Godoy (Alan Rocha), que promete ajudá-la. Mas a decisão também coloca a vida da protagonista em risco, diante da iminência de ser descoberta pelos criminosos.
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Indignação, amizade e os dilemas da vida na terceira idade
Além de tratar de temas como segurança pública e jornalismo, Vitória emociona ao tocar em questões mais íntimas: a solidão, a amizade, o apego às próprias conquistas e a dificuldade de abrir mão delas.
A jornada da protagonista não é apenas uma luta contra o crime, mas também contra o preconceito (inclusive aquele que o próprio público pode, num primeiro momento, projetar nela por conta da idade).
A narrativa convida o espectador a aplicar o famoso “não julgar o livro pela capa”, não só aos personagens coadjuvantes — como Bibiana (Linn da Quebrada) e Marcinho (Thawan Lucas) —, mas principalmente à figura central da história: uma mulher independente, trabalhadora e corajosa.
Um roteiro com algumas limitações, mas com muito coração
Apesar dos elogios, o roteiro não consegue desenvolver totalmente todos os temas e personagens que propõe. Existem tramas paralelas que poderiam ganhar mais profundidade, e certas resoluções acontecem de forma um pouco apressada. Mas, mesmo com essas limitações, o filme entrega uma experiência que vale a pena.
O fato de ser inspirado em uma história real dá ainda mais peso emocional à narrativa, tornando-a ainda mais interessante e inspiradora.
Quem foi Vitória na vida real?
“Vitória” foi o nome adotado por Joana Zeferino da Paz quando entrou para o Programa de Proteção a Testemunhas, aos 80 anos de idade. A história original, ocorrida em 2005, foi por muitos anos mantida em sigilo como forma de proteger a identidade da mulher, responsável não só por denunciar crimes na favela Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, mas também por revelar o envolvimento de policiais corruptos nesses delitos.
Com a morte de Joana, em 2023, o livro de Fábio Gusmão foi reeditado em 2024, trazendo mais informações sobre quem foi essa ativista e seu legado de resistência e luta contra a injustiça. Inclusive, a falta de registros sobre a personalidade da vida real é um dos fatores que justificam a escolha de Fernanda Montenegro para o papel principal, já que Joana era uma mulher negra.
Onde assistir?
Se você se interessou, Vitória acaba de entrar no catálogo da Globoplay. Uma boa pedida, especialmente para assistir a mais uma grande atuação de Fernanda Montenegro.
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