Se você acompanhou as conversas sobre cinema no início deste ano, provavelmente tem alguma opinião sobre Anora. Grande vencedor do Oscar 2025, o novo longa de Sean Baker (Projeto Flórida, 2017) é uma comédia dramática que subverte expectativas ao desmontar a idealização de um romance, especialmente quando dinheiro e poder entram em cena.
Do conto de fadas à crise familiar
Acompanhamos Ani (ou Anora), uma garota de programa nova-iorquina que, durante uma noite de trabalho, conhece Ivan, filho de um oligarca russo. O encontro rapidamente se transforma num conto de fadas moderno: eles se apaixonam e, impulsivamente, se casam em Las Vegas.
Mas a notícia do casamento chega até os pais do rapaz, que mobilizam seus capangas para anular a união. A partir daí, começa uma perseguição tragicômica, cheia de gritaria, reviravoltas, chantagens e revelações.
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Um filme que engana (no bom sentido)
Um dos grandes trunfos de Anora está na sua estrutura narrativa. O que começa como uma comédia romântica inusitada logo se revela uma crítica afiada à elite privilegiada e às consequências reais das decisões tomadas por quem vive no luxo, alheio ao impacto que provoca.
Com longa trajetória contando histórias de trabalhadoras do sexo com empatia e respeito, Sean Baker evita clichês. Ani não é uma golpista; Ivan não é apenas uma vítima. O foco está no desequilíbrio entre classes e em como esse abismo molda o destino de quem tenta sobreviver à margem social.
O mesmo olhar se estende aos capangas da família russa, personagens surpreendentemente bem desenvolvidos. Suas ações não vêm só da obediência: vêm do medo, do pragmatismo, da consciência de que suas próprias vidas também estão em jogo.
Tudo isso converge em uma cena central em que todos esses personagens colidem: uma explosão de desespero, decisões impulsivas e caos absoluto que muda o rumo da história.
Mikey Madison entrega o papel da sua carreira
O coração do filme está na atuação de Mikey Madison, que dá vida à protagonista com intensidade e carisma, que mantém a cabeça erguida, tentando esconder sua vulnerabilidade.
E quanto a vulnerabilidade aparece, a atriz demonstra ainda mais como sua personagem tem complexidade. É uma daquelas performances que segura o filme do início ao fim, navegando por emoções complexas sem soar forçada.
Ao lado dela, um elenco afiado e bem dirigido ajuda a construir um universo crível e ao mesmo tempo tão absurdo quanto o jeito que a vida dos super-ricos costuma ser retratada nas melhores sátiras sociais.
Edição precisa e direção inspirada
Do ponto de vista técnico, Anora também brilha. A edição mantém o ritmo ágil e fluido, sem subestimar o espectador com explicações desnecessárias. Tudo é direto, eficiente e orgânico (mérito tanto da montagem quanto do roteiro enxuto).
Sean Baker reforça aqui sua assinatura: histórias urbanas sobre pessoas à margem do sonho americano, agora com um toque mais satírico e um orçamento um pouco mais robusto, sem jamais perder o olhar humano.
Quais os prêmios ganhos por Anora?
Desde sua estreia em Cannes, onde levou a Palma de Ouro, Anora conquistou crítica e público. Venceu o Critics Choice (melhor filme), o BAFTA (melhor atriz) e os sindicatos de diretores e roteiristas.
A consagração definitiva veio no Oscar 2025, com vitórias em cinco das seis categorias a que foi indicado: melhor filme, direção, roteiro original, edição e atriz para Madison. Uma jornada consagradora que consolida Sean Baker como um dos autores mais interessantes do cinema contemporâneo.
Vale a pena assistir?
Definitivamente. Anora é uma comédia dramática inteligente, provocadora e cheia de estilo. Vai além do romance improvável: é sobre o choque de realidades e os rastros de destruição deixados por bilionários inconsequentes nas vidas de quem passa por eles.
Onde assistir Anora?
Anora acaba de entrar no catálogo do Prime Video. E agora, livre do alvoroço do Oscar, é interessante também revisitar o filme por si só, sem o peso das comparações ou da temporada de premiações.
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