Nosferatu, clássico terror do expressionismo alemão, de 1922, retorna mais de um século depois com um remake. Baseado em Drácula de Bram Stoker, a nova versão tem a direção de Robert Eggers.

Mostrando porquê o cineasta é um dos nomes mais singulares do terror contemporâneo, o longa é carregado de atmosfera sombria, desconforto gráfico e um senso estético que se impõe desde os primeiros minutos.

 

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Uma ambientação que prende e perturba

Ambientado na Alemanha do século XIX, o filme conta a história de Ellen Hutter (Lily-Rose Depp), uma jovem que vê sua vida desmoronar diante da presença do maldito conde Orlok (Bill Skarsgård), um vampiro que manipula tudo e todos ao redor para conquistá-la.

Desde o início, o que mais impressiona é a ambientação gótica. Eggers e sua equipe entregam uma combinação impecável de direção, fotografia, figurino e direção de arte. A caracterização dos personagens é eficaz, criando um universo sombrio onde a tensão é constante. 

A montagem, por sua vez, coloca o espectador dentro da mente dos personagens: é possível sentir a confusão e o medo que presenciam, quase como se estivéssemos também sendo manipulados e hipnotizados pelo conde.

Terror que provoca o olhar e o estômago

A nova versão não busca assustar por caminhos fáceis, como jump scares. Nosferatu é um filme de desconforto, daqueles que te deixam em alerta constante do que pode acontecer, e que te fazem querer desviar o olhar não só pela violência gráfica, mas também pelas situações sugeridas. 

Esse incômodo é construído intencionalmente, contando com grande mérito da direção e das atuações. A sensação final é quase espiritual: você sai da experiência com a cabeça cheia e o corpo tenso, como se tivesse passado pelos mesmos eventos que os protagonistas. O que leva a um importante alerta: assim como outras obras do diretor, esse não é um filme para todo mundo.

Atuações teatrais e ritmo irregular, mas coerentes com a proposta

Quem conhece o cinema de Robert Eggers (como A Bruxa ou O Farol) já sabe que seus filmes têm um ritmo próprio, muitas vezes distante da cadência tradicional de Hollywood. Nosferatu não é diferente: em alguns momentos, a narrativa parece perder o fôlego.

As atuações podem parecer exageradas ou teatrais, e talvez sejam mesmo. Só que, neste caso, isso não joga contra – ao contrário, dá uma camada de estranhamento que funciona muito bem dentro da proposta estética e narrativa.

Além dos atores já citados, o filme ainda conta com Nicholas Hoult, Aaron Taylor-Johnson, Emma Corrin, Ralph Ineson e Willem Dafoe em performances que entregam o desespero de não saber lidar com o mal que os assombram.

Um vampiro marcante e visualmente curioso

Agora contando uma experiência pessoal: a única coisa que realmente me tirou da imersão foi o visual do Conde Orlok. Não pela maquiagem ou caracterização, que estão impecáveis. O que quebrou um pouco o feitiço foi sentir o personagem extremamente parecido com outro, de uma comédia recente. 

Para evitar induzir ninguém a fazer a mesma comparação, vou me abster de contar qual o personagem. E, novamente, é uma coisa minha, e talvez não aconteça com você.

Por que o vampiro se chama Nosferatu, e não Dracula?

Como dito na introdução, o filme se baseia no livro Dracula, de Bram Stoker. E, se você conhece a história original, vai perceber em Nosferatu diversas semelhanças em situações e nos personagens.

O problema é que lá em 1922, quando o filme alemão foi realizado, a produção não detia os direitos de adaptação da obra de Stoker, o que resultou na alteração completa de nomes e visuais, para evitar problemas na justiça.

O problema é que na verdade não evitou: os herdeiros do escritor processaram o filme, resultando em uma decisão judicial que ordenou a destruição das cópias do longa – que só sobreviveu porque algumas já haviam sido distribuídas para mercados fora da Alemanha.

Vale assistir?

Se você gosta de filmes que apostam na atmosfera em vez do susto, que te envolvem com desconforto e beleza sombria, então Nosferatu é uma experiência que merece sua atenção. Talvez você ame, talvez odeie, mas é certo que não vai sair indiferente.

Onde assistir Nosferatu?

Nosferatu acaba de entrar no catálogo da Prime Video.

 

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(O personagem citado acima é o Dr. Robotinik de Jim Cary, na franquia Sonic) 

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