O novo terror de Zach Cregger (Noites Brutais, 2022) chega com uma premissa que intriga desde o primeiro minuto: numa madrugada qualquer, às 2h17, todas as crianças da sala da Srta. Gandy deixam suas casas e correm em direção à escuridão, para nunca mais voltarem. Todas, menos uma.

A partir desse evento inexplicável, o filme constrói uma narrativa densa e atmosférica, usando o desaparecimento como ponto de partida para discutir traumas coletivos e questões sociais, como tiroteios escolares, alcoolismo e a responsabilidade de uma comunidade diante de um caso sem resolução.

No centro da história estão a professora Justine Gandy (Julia Garner) e o aluno sobrevivente Alex Lilly (Cary Christopher): figuras que despertam tanto desconfiança quanto compaixão. 

Ao redor deles, surgem personagens com reações distintas: Archer (Josh Brolin), pai de uma das crianças desaparecidas, não mede esforços na busca por respostas, enquanto o diretor Marcus (Benedict Wong) e a polícia parecem aceitar a falta de pistas como um obstáculo intransponível.

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Uma história contada em capítulos

Inspirado pelo formato de Magnólia (1999, Paul Thomas Anderson), Cregger divide a trama em capítulos, cada um sob o ponto de vista de um personagem. Com seis protagonistas centrais, o roteiro investe tempo para criar um pano de fundo rico, deixando claro que cada um tem um passado e uma maneira particular de lidar com a tragédia.

Essa estrutura, rara no terror, mantém o espectador em constante curiosidade e reforça a sensação de que o cenário de A Hora do Mal é um organismo vivo, cheio de histórias paralelas que respiram para além da câmera.

A decisão de focar apenas nos 6 ainda garante uma conexão maior com a trama e com os próprios. É um filme que quer apresentar como a vida de cada um de certa forma foi afetada pelo evento.

Tensão, humor e reviravoltas

Cregger domina o uso do silêncio, do tempo e das pistas falsas para criar um jogo de expectativa e surpresa. O terror não se apoia apenas em sustos, mas no desconforto constante de que algo terrível pode acontecer a qualquer momento.

O filme também flerta com outros gêneros, incluindo momentos de humor (às vezes proposital, às vezes fruto do nervosismo diante da tensão) que ajudam a aprofundar o impacto emocional das cenas e tornam a experiência mais imprevisível.

Pontos que podem dividir opiniões

Por outro lado, quem espera um terror tradicional, linear e repleto de jump scares pode estranhar o ritmo. O início é mais lento, apresentando o cenário e os personagens, exigindo paciência para que a trama central realmente se inicie.

Além disso, há elementos fantasiosos que não se integram plenamente às alegorias principais, soando mais como forças antagônicas do que como parte orgânica da metáfora. Em alguns momentos, isso pode até transmitir um sentido oposto ao pretendido.

Ainda assim, como recurso narrativo, a fantasia contribui para ampliar as camadas da história e intensificar os conflitos. Quando o filme engrena, a recompensa é sólida e impactante.

Personagens carismáticos e ambíguos

Além da tensão, A Hora do Mal se apoia em personagens bem construídos, que mesclam carisma e complexidade moral. Nenhum personagem é um herói absoluto: todos têm falhas e são capazes de atitudes questionáveis. 

Essa ambiguidade se soma a um trabalho técnico impecável: montagem que reforça a sensação de dissociação, direção de arte detalhista que conta histórias sem precisar de diálogos expositivos, trilha sonora opressiva e fotografia que alterna com precisão entre luz e sombra para guiar as emoções em cena.

Um terror para rever e interpretar

Definitivamente, este é daqueles filmes que fazem o espectador sair da sessão já buscando entender as metáforas e referências espalhadas ao longo da trama. Se você gosta de narrativas que desafiam e instigam, vale a pena correr para o cinema e conferir.

A Hora do Mal possui alguma cena pós-créditos?

Como era de se esperar, por ser uma nova propriedade (isto é, que não pertence a nenhuma franquia ou é uma adaptação de outra obra), o filme não possui nenhuma cena pós-créditos. 

Mas há um toque artístico no encerramento: os nomes da equipe contornam um símbolo que surge na tela, fugindo do formato vertical tradicional. Um detalhe pequeno, mas que mantém o cuidado estético até o último frame.


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