Uma distopia que reflete o presente

Em um futuro próximo, o governo brasileiro decide que todos os idosos devem ser enviados para colônias habitacionais, com o argumento de “proteger” a força de trabalho do país e evitar que eles se tornem um fardo para os mais jovens.

É nesse cenário que conhecemos Tereza (Denise Weinberg), uma senhora de 77 anos que, em uma distorcida forma de reconhecimento pelos serviços prestados à sociedade, começa a perder seus direitos: é demitida do trabalho, tem sua autonomia restringida e vê sua liberdade ameaçada.

Prestes a ser enviada para uma dessas colônias, Tereza toma uma decisão radical: foge de casa e embarca em uma jornada para realizar sonhos antigos, que logo se transforma em uma aventura de autoconhecimento.


Leia também:
+ Slow Horses transforma agentes descartados em protagonistas de uma das melhores séries de espionagem
+ Melhores Séries de 2025: o que se destacou no primeiro semestre
+ Faça Ela Voltar: terror psicológico com luto, traumas e clima de desconforto


A força de uma protagonista complexa

Ao longo do caminho, o longa revela as várias camadas de Tereza. Ela deseja experiências simples, como andar de avião, mas também demonstra versatilidade, coragem e um julgamento moral do que acredita ser certo ou errado.

A personagem cruza com pessoas que representam tanto apoio quanto ameaça. Um reflexo do mundo real, onde o idoso pode ser visto como alguém cheio de vontade de viver ou como alvo fácil de exploração. Essa dualidade reforça a importância da luta de Tereza pelo direito de escolher seu próprio destino.

Temas sociais e um toque de fantasia

Apesar do tom distópico, O Último Azul discute questões muito reais: abandono, marginalização, etarismo e a negação da autonomia na velhice. A obra se torna um convite a repensarmos como tratamos nossos próprios idosos.

O filme ainda insere uma camada mística com o caracol Baba Azul, cuja presença simboliza uma ferramenta de transformação pessoal. Esse elemento amplia a profundidade da trama, trazendo momentos de introspecção e reflexões sobre identidade.

A Amazônia como personagem

Um dos destaques do longa está no impacto visual. A floresta amazônica não é apenas cenário, mas um personagem essencial, reforçando a sensação de isolamento e conexão com a natureza. 

A direção de Gabriel Mascaro utiliza a fluidez das águas e dos cenários para criar paralelos com a própria protagonista, que emerge da história transformada.

Sem tentar oferecer soluções fáceis para as injustiças que apresenta, o filme prefere focar na jornada de Tereza e nas consequências de suas decisões, construindo uma experiência rica em significado.

Onde assistir 

O Último Azul já está em cartaz nos cinemas brasileiros. Para quem gosta de distopias com carga emocional, crítica social e um toque de fantasia, o longa é uma das estreias nacionais mais impactantes do ano.

 

Conteúdo relacionado:
+ 'O Último Azul', filme premiado com Rodrigo Santoro, aborda o sentido da vida
+ Homenageado no Festival de Gramado, Rodrigo Santoro completa 50 anos nesta sexta-feira
+ 'O Último Azul', de Gabriel Mascaro, é exibido no Palácio da Alvorada
+ Galã dos anos 1990, Rodrigo Santoro não descarta retorno às novelas
+ Filme brasileiro 'O Último Azul' vence prêmios de júris paralelos em Berlim

 

Confira também a análise em vídeo: