O prefeito Fuad Noman (PSD) reagiu nesta terça-feira (29 de outubro) ao que foi considerado por aliados do chefe do Executivo municipal como uma tentativa de demonstração de força na Câmara dos Vereadores do grupo conhecido na Casa como Família Aro, que tem como mentor o secretário da Casa Civil do governador Romeu Zema, Marcelo Aro (PP).

Na segunda-feira (28 de outubro), o grupo anunciou apoio a um de seus integrantes, Juliano Lopes (Podemos), reeleito no pleito do último dia 6, para a Presidência da Câmara. Uma foto do encontro mostra 23 vereadores e futuros parlamentares, parte integrante da ala ligada a Aro, e outros, não. Fuad, por sua vez, estuda a possibilidade de lançar o vereador reeleito Bruno Miranda (PDT), líder de governo na Casa, para a Presidência.

O encontro articulado por Aro acendeu a luz amarela na prefeitura. A intenção de Fuad era esperar ao menos alguns dias após o segundo turno da eleição para iniciar as negociações para o comando da Câmara. Havia uma acordo neste sentido, conforme aliados do prefeito, com Juliano Lopes. A reunião, portanto, foi vista como uma ruptura do que havia sido combinado.

Além disso, a presença no encontro de dois vereadores de partidos que apoiaram Fuad nas eleições - o reeleito Wagner Ferreira (PV), e um dos eleitos no dia 6, Edmar Branco (PCdoB),  também incomodou o prefeito. O principal temor é que Marcelo Aro ganhe força suficiente na Casa para influenciar a montagem do secretariado do próximo governo de Fuad.

Para tentar, ao menos por enquanto, um reequilíbrio de forças, Fuad colocou em campo o vereador e vice-prefeito eleito, Álvaro Damião (União). Ao colega de chapa foi dada a tarefa de entrar em contato com parlamentares que participaram do encontro.

No final da tarde desta terça-feira, segundo informações de um vereador, pelo menos quatro parlamentares haviam sido contactados: os dois de partidos que apoiaram Fuad no segundo turno, e os vereadores eleitos Leonardo Ângelo (Cidadania), que trabalha na mesma rádio de Damião, e Osvaldo Lopes (Republicanos), suplente de deputado estadual e que depende das articulações do PSD na Assembleia para assumir o posto na Casa.

Osvaldo foi eleito vereador pelo Republicanos, mas disputou vaga na Assembleia Legislativa pelo partido do prefeito. Como a legislação atual prevê que os votos são do partido, e não do candidato, Osvaldo, para ter chances de assumir vaga na Assembleia, precisaria ser expulso do Republicanos e ser aceito de volta no PSD.

Além disso, seria necessário ainda uma dança das cadeiras no Poder Legislativo. Osvaldo é o segundo suplente do PSD. O primeiro é Adalclever Lopes, que assume vaga na Casa no ano que vem, depois das vitórias do deputado Douglas Melo em Sete Lagoas, e do suplente Makoto Sekita, em São Gotardo.Adalclever, que é ex-deputado estadual e já participou do governo Fuad, apoiou Mauro Tramonte (Republicanos) na disputa pela prefeitura.

Osvaldo, ao menos até o ano passado, não tinha uma boa relação com a administração Fuad. O vereador eleito assumiu a secretaria-adjunta de Meio Ambiente em abril e deixou o cargo em agosto, classificando a experiência como "desastrosa". À época, Osvaldo afirmou que era isolado de decisões importantes da pasta.

Um dos vereadores contactados, Wagner Ferreira, divulgou nota sobre o apoio a Juliano Lopes. "Meu voto em Juliano Lopes não reflete nenhuma União e muito menos formação de base com representantes da direita no parlamento municipal. Quem acompanha o Legislativo Municipal com frequência sabe que a eleição para a Presidência da Casa é um processo e a formação da base de governo e bancadas é outro", diz o texto, publicado nas redes sociais. A reportagem não conseguiu localizar os demais vereadores contactados por Damião.

A reportagem tentou ainda contato com o vereador Juliano Lopes, mas não houve retorno. Um integrante da Família Aro afirmou que o projeto de ter Juliano Lopes como presidente da Casa não nasceu agora, e que foi apresentado um dia depois da vitória de Fuad porque não fazia sentido fazer esta apresentação antes da definição de quem seria o prefeito.

O integrante da Família Aro afirmou ainda que não houve acordo com o entorno do prefeito para que o início da discussão ocorresse mais para frente. O representante do grupo diz também não haver, por parte de Aro, com o lançamento de Juliano Lopes, qualquer tipo de pressão sobre o prefeito. A reportagem entrou em contato com a prefeitura, mas os questionamentos enviados não foram respondidos.

Miranda prega diálogo e Aro defende grupo

O vereador Bruno Miranda, líder de Fuad na Câmara, afirmou que o prefeito vai conversar com todos os vereadores para saber qual é o melhor caminho a seguir nas articulações sobre a sucessão na Câmara. O cargo, até o final de dezembro, é ocupado pelo vereador Gabriel Azevedo (MDB), que disputou a eleição para prefeitura, ficando em quarto lugar na corrida pela PBH.

"A candidatura de Juliano Lopes é legítima assim como a de qualquer outro parlamentar. Vamos dialogar com todos para definir qual será o melhor posicionamento do prefeito e do governo" (em relação à sucessão no comando do Poder Legislativo municipal), disse Miranda. Questionado se seria o preferido do prefeito para o cargo, Miranda reafirmou a necessidade de mais conversas sobre o processo de eleição na Casa.

O secretário Marcelo Aro, em nota, comentou o apoio a Juliano Lopes. "O grupo que se formou é composto por vereadores que estão preocupados em cuidar da cidade, em resolver os problemas daqueles que os elegeram. E assim deve ser. Que bom saber que há representantes de todos os espectros ideológicos. Isso só fortalece o parlamento", diz o texto.