O próximo presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte será eleito nesta quarta-feira (1° de janeiro) em disputa acirrada entre os dois candidatos ao cargo, com direito à possibilidade de virada de votos de última hora. Os vereadores Bruno Miranda (PDT), líder do prefeito Fuad Noman (PSD), e Juliano Lopes (Podemos), vice-presidente da Casa, concorrem ao cargo.

Enquanto Miranda é apoiado por Fuad, Lopes é o candidato do grupo de vereadores conhecido na Câmara como "Família Aro", pela ligação com o secretário de estado da Casa Civil, Marcelo Aro. As últimas contas de parlamentares nesta terça-feira (30 de dezembro) colocam Lopes na dianteira, com os votos de 23 dos 41 vereadores. Miranda, portanto, teria, no momento, 18.

O Vice-prefeito eleito, Álvaro Damião (União), é quem está à frente das negociações para eleger Bruno Miranda à presidência da CMBH. Ele inclusive assumiu dias atrás o posto de secretário de Governo e abriu frentes de interlocução para reverter votos de vereadores que já se posicionaram a favor de Lopes ou que ainda não declaram apoio a nenhum dos lados.  Três desses vereadores procurados pelo grupo de Fuad são Marilda Portela (PL), Janaína Cardoso (União) e Wagner Ferreira (PV). Eles estão sendo alvos de mensagens e telefonemas de lideranças políticas sob coordenação de Álvaro Damião.  

Juliano Lopes e Bruno Miranda- Foto: Redes Sociais

A aposta na virada dos votos está no bom relacionamento dos três com a prefeitura e, no caso de Janaína, no fato de pertencer ao mesmo partido de Álvaro Damião. Marilda vota com frequência a favor de projetos de Fuad na Casa. Já Ferreira é o atual vice-líder do governo na CMBH. Os três já declararam publicamente voto em Lopes.  Marilda e Ferreira, durante vídeo ao lado do vereador e outros parlamentares em outubro. Janaína, na semana passada, também em gravação ao lado de Lopes.

Além da pressão da prefeitura, Wagner Ferreira vem sofrendo pressão do partido. O PV já avisou que se ele apoiar Lopes poderá ser expulso da legenda.

O esforço da articulação de Álvaro Damião já provocou uma mudança de Lado. Lucas Ganin (Podemos), vereador eleito para o seu primeiro mandato, chegou a gravar vídeo de apoio a Lopes em outubro. Agora, já declarou publicamente que vai votar em Bruno Miranda.  Apesar dessa mudança,  o vereador eleito pelo PL, Pablo Almeida, que apoia Lopes, acredita que o "placar" atual está consolidado. "O Juliano perdeu o apoio do Ganem, mas a Janaína já anunciou seu voto nele. Acredito que ninguém mais irá voltar atrás", disse o vereador eleito.

A briga por votos para o comando da Câmara colocou nas articulações figurões de peso do PL. O presidente estadual do partido, o deputado federal Domingos Sávio, se encontrou nesta terça-feira (30 de dezembro) com integrantes atuais da bancada da legenda e também com vereadores eleitos pela sigla que irão votar na sucessão no Legislativo municipal.

Domingos Sávio, porém, negou que o encontro tivesse como objetivo influenciar a eleição na Casa. (...) "Não tenho a intenção de interferir no processo eleitoral da Câmara", afirmou. O PL tem dois vereadores no Poder Legislativo municipal na atual legislatura e passará para seis no ano que vem, a maior bancada da Casa” destacou. 

Disputa em 2024 é semelhante ao da última eleição para o cargo, em 2022 

O esforço da equipe de Fuad na virada de votos ocorre para não iniciar o segundo mandato da mesma forma que o atual está terminando. Com o presidente da Câmara como rival político, como é o caso do atual Presidente, Gabriel Azevedo.   Cabe ao vereador que ocupa o cargo de presidente definir as prioridades de votação dos projetos de lei apresentados de interesse do Poder Executivo.

A última eleição para a presidência da Câmara de Belo Horizonte, que elegeu Gabriel Azevedo, então sem partido, hoje no MDB, também teve disputa apertada entre os candidatos. O rival de Azevedo no embate era Claudiney Dulim (Avante), que contava com o apoio do prefeito Fuad.

Após viradas de lado, assim como verificado hoje na Casa, Azevedo venceu a eleição por 21 votos a 20. A definição do pleito ocorreu com voto do vereador Bibiano, hoje no Republicanos, que à época era do PSD, o partido do prefeito Fuad. Gabriel foi eleito com a ajuda dos votos de vereadores que integram a "Família Aro", grupo com o qual rompeu em seguida. 

Fracasso em negociação mudou discurso da prefeitura sobre eleição na Câmara 

Os grupos políticos dos candidatos à presidência da Câmara, Bruno Miranda e Juliano Lopes, chegaram a tentar um consenso para o lançamento de chapa única na eleição para o comando da Casa. As negociações, porém, não duraram um dia. Uma conversa entre os dois grupos, tendo Álvaro Damião e Aro como os principais interlocutores, aconteceu no dia 24 de dezembro, mesma data em que Miranda anunciou a sua candidatura ao cargo.

Segundo interlocutores de Fuad, houve muitos pedidos de cargos tanto na Mesa-Diretora da Casa como na prefeitura, o que teria inviabilizado as negociações. Além da presidência, o comando da Câmara é formado ainda pela vice-presidência, segunda vice-presidência, secretaria-geral, primeiro secretário e segundo secretário.  

Procurado, Marcelo Aro confirmou a tentativa de acordo, mas disse que quem pediu muitos cargos foi Álvaro Damião. (...) "Ele, sim, exigiu infinitos cargos na Câmara Municipal, além de querer ter metade dos membros da Mesa-Diretora e a presidência de todas as comissões relevantes da Casa, colocando o parlamento de joelhos para o Poder Executivo", disse Aro, em nota.A reportagem tentou contato com os dois candidatos à Presidência da Câmara para posicionamento sobre as articulações em andamento envolvendo a disputa do cargo, mas não houve retorno.