O ex-ministro-chefe da Casa Civil do primeiro governo do presidente Lula, José Dirceu (PT), condenado no processo do Mensalão, disse na manhã desta terça-feira (18) que a delação premiada é “quase uma piada” e “se tornou um instrumento de tortura”. Em entrevista ao Café com Política, da FM O TEMPO 91,7, o ex-ministro se mostrou otimista em relação à possibilidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) anular todas as suas condenações.

"Como eu tive uma vitória no Supremo, que pode ser aplicada a outro processo, e tem um inquérito parado há mais de dez anos, eu vou voltar a ter direitos políticos", avaliou. Ao ser questionado se sente injustiçado, José Dirceu afirmou ter sido cassado politicamente. "O Roberto Jefferson (ex-deputado federal) foi cassado porque não provou que havia Mensalão. Eu fui cassado porque era o chefe do Mensalão. Mas acontece que o Supremo me absolveu. Eu fui absolvido de formação de quadrilha e de chefe de Mensalão. Fui condenado e cumpri a pena sem provas", afirmou.

José Dirceu disse também que foi preso por uma terceira vez para fazer delação premiada. "Me deram 40 anos de prisão, denunciaram minha filha menor de idade, que a mãe já tinha falecido. Prenderam meu irmão, prenderam o corretor. Isso tudo para fazer delação, que virou um instrumento de tortura", declarou.

O ex-ministro ainda teceu críticas à Lava Jato. Na avaliação dele, as ações faziam parte de uma “operação política” para inviabilizar o PT e prender o presidente Lula. "Está sendo anulado, como foi anulado o processo que levou o presidente Lula à prisão."

Deputado federal

Dirceu também confirmou à FM O TEMPO que pretende se candidatar a deputado federal por São Paulo em 2026, mas que não deseja voltar a ter cargo no governo. “Eu fui eleito com mais de 500 mil votos em 2022, mas a Câmara me cassou politicamente, totalmente inconstitucional, porque não havia nenhuma base para me cassar. Mas eu não pretendo voltar ao governo”, garantiu o político, que fará 80 anos em 2026.

O ex-ministro, que tem três processos sendo analisados pelo STF, também comentou o papel político dos ministros da Suprema Corte. Ele argumentou que, na teoria, o Supremo deveria ser silencioso, mas a conjectura política do Brasil contribuiu para que os ministros participassem mais ativamente das discussões. “O ideal é o Supremo ser praticamente silencioso, que fale nos autos. Mas a vida política brasileira teve um acontecimento, que foi o presidente Jair Bolsonaro, que queria cassar os ministros, anular as eleições.”

Eleições municipais

José Dirceu chegou a Belo Horizonte na segunda-feira e participou de reuniões com integrantes do PT estadual e municipal. O ex-ministro defendeu a liderança da esquerda na corrida eleitoral pela Prefeitura de Belo Horizonte. "Estou viajando pelo país. Estive na Bahia, estive no Piauí, estive no Ceará. Sexta-feira fui ao ABC de São Paulo, sábado fui à zona sul de São Paulo e no domingo fui a Jundiaí. Estou aqui desde ontem para discutir o Brasil, o PT, as eleições municipais, o governo do presidente Lula. Eu tenho viajado pelo país para ajudar o presidente e o governo a cumprir seus compromissos com o país", disse.

A entrevista foi concedida aos jornalistas Guilherme Ibraim e Adriana Ferreira