BRASÍLIA -  O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou nesta segunda-feira (15) que o progresso do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul está condicionado à resolução das "contradições internas" dos europeus.

Durante uma solenidade no Palácio do Planalto, na qual Lula recebeu o presidente da Itália, Sergio Mattarella, o líder brasileiro enfatizou o desejo do Brasil de concluir o acordo. Contudo, ressaltou que obstáculos internos na Europa estão dificultando as negociações.

Lula argumentou que o acordo entre os dois blocos econômicos deve ser equilibrado e promover o desenvolvimento de ambas as regiões. Em uma declaração conjunta à imprensa, ele mencionou que o tema foi abordado durante a conversa com Mattarella.

“Explicitei que o avanço das negociações depende de os europeus resolverem suas próprias contradições internas. Medidas como a taxa de carbono imposta de forma unilateral pela União Europeia podem afetar cinco dos dez produtos brasileiros mais exportados para o mercado italiano. A redução das emissões de CO2 é um imperativo, mas não deve ser feita com base em medidas unilaterais que vão impactar as vidas dos produtores brasileiros e dos consumidores italianos”, declarou Lula.

Mattarella está no Brasil em comemoração aos 150 anos da imigração italiana no país e para discutir questões nos fóruns do G20 e G7. Em junho de 2023, Lula visitou a Itália, onde o Brasil participou, como convidado, da reunião do G7.

Na manhã desta segunda-feira (15), Mattarella e Lula tiveram uma reunião de trabalho no Palácio do Planalto.

Os dois líderes assinaram atos conjuntos e fizeram declarações à imprensa. Em seguida, almoçaram no Palácio do Itamaraty e novamente falaram aos jornalistas, celebrando a relação bilateral.

"Uma coisa importante que eu insisti que o presidente Mattarella visse ao Brasil, porque o Brasil é o maior território italiano fora da Itália. Ou seja, primeiro Itália e depois o Brasil. Descendentes de italianos têm uma participação extraordinária na agricultura, na indústria, na universidade e na cultura. Não é pouca coisa um tenor como Pavarotti me fazer gostar de música clássica", comentou Lula.

Negociações

O acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE) tem como objetivo facilitar o comércio entre os dois blocos e está em negociação há mais de duas décadas. 

Em 2019, uma versão preliminar do acordo foi assinada, mas não ratificada, devido à deterioração das relações entre o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e os países europeus.

O aumento do desmatamento e o não cumprimento de normas ambientais pelo Brasil foram fatores determinantes para a paralisação do processo.

As negociações foram retomadas em março de 2023, mas as exigências ambientais impostas pela União Europeia continuam sendo um obstáculo. A França, segunda maior economia da UE, destaca-se como um dos principais opositores ao acordo, especialmente devido às preocupações do setor agrícola francês. 

Durante sua visita ao Brasil no final de março, o presidente francês Emmanuel Macron afirmou que o acordo, "tal como está sendo negociado agora, é um péssimo acordo".

Integrantes do governo brasileiro apontam que a conclusão do acordo entre Mercosul e UE poderia trazer benefícios para o Brasil, como a ampliação do acesso aos mercados europeus, com a redução de tarifas para produtos agrícolas e industriais brasileiros, o que potencialmente aumentaria as exportações e impulsionaria a economia nacional. 

Além disso, defendem que o acordo facilitaria a atração de investimentos europeus, promoveria a transferência de tecnologia e melhores práticas empresariais.