Marília Campos (PT), que assume a Prefeitura de Contagem pela quarta vez, propõe a criação do BH+10, uma articulação entre os municípios da região metropolitana para discutir problemas comuns, como mobilidade, segurança pública e inundações. Em entrevista exclusiva a O TEMPO, ela fala também de sua rotina pessoal e de sua trajetória política.

Quando não está exercendo a sua função de prefeita, quem é a Marília?

Eu sou a Marília que criou os filhos, esposa que gosta de fazer um bolo, que gosta de fazer o almoço. Eu sou a Marília que vai à feira para comprar o polvilho para fazer o pão de queijo. Eu sou a Marília que vai ao supermercado também fazer as compras. Eu sou a Marília que malha muito: faço caminhada, faço ginástica, academia, musculação. Em breve, vou entrar no pilates também. Eu sou a Marília que conversa com os vizinhos, que vai ao cinema, lá no Itaú ou lá no shopping Contagem. Eu sou a Marília que anda pela cidade como uma cidadã.

Sua primeira eleição como prefeita foi em 2004. A senhora ganhou do então prefeito e candidato à reeleição, Ademir Lucas. O que a senhora acredita que foi essencial para a sua eleição e reeleição, em 2008?

Eu diria que inauguramos um estilo novo na disputa eleitoral. Eu fui em cada rua dessa cidade com um Jeep, porque na época não tinha muitos recursos, andava muito de casa em casa, fazendo reuniões nos bairros. Então, aquela presença junto ao povo foi uma coisa que marcou um novo estilo de fazer política e fazer política com o microfone na mão, discutindo com as pessoas um projeto de cidade. Então, eu fui muito proativa, não de falar do adversário, mas de falar de mim: qual era o meu compromisso com a cidade, qual era o projeto de cidade que eu defendia. E eu acho que isso conquistou as pessoas para esse novo estilo de política.

Muitas figuras políticas elogiam a senhora por conseguir dialogar com outros públicos que vão além da esquerda e além do PT. Na sua avaliação, como foi possível conseguir isso, especialmente em um cenário de polarização política?

Eu diria que a experiência do Executivo é uma experiência que forma muito a gente, porque, como concepção política, eu sempre tive a visão de que, ganhou eleição para prefeito, passou o processo eleitoral, temos que conversar com todo mundo, com o empresário, com quem votou, com quem não votou, com o povo, com as mulheres, com os jovens, com as crianças, com os servidores públicos. Então, o Executivo desafia a gente para esse projeto. Acabou o processo eleitoral, o diálogo é republicano, independentemente de quem tenha votado em você. Isso faz com que eu tenha essa amplitude, seja para atuar no Executivo, seja para atuar no Legislativo, porque, para governar ou para ser um bom legislador, temos que representar o interesse popular, o interesse para promover o bem comum. E é isso que eu fiz. Então, essa capacidade de diálogo é uma coisa que eu aprendi sendo prefeita de Contagem.

A senhora é uma das principais figuras femininas na política de Minas e está entre as 68 prefeitas eleitas em 2024. Apesar de o número estar crescendo, ele ainda é baixo considerando o universo de Minas, que tem 853 cidades. Na sua avaliação, o que falta para termos mais mulheres na política?

Eu acho que precisamos ter lideranças que possam estimular e inspirar que mais mulheres entrem nessa trajetória, porque não é fácil. A trajetória da mulher que tem uma profissão, que tem que estudar, porque a grande maioria faz a opção por casar, ter filhos, e estar na política não é uma troca de agenda, é mais uma agenda. Eu, pelo fato de estar na política, não abri mão de nada. É claro que temos menos tempo, a agenda é uma correria só. E os homens têm uma relação com a vida diferente. Nós temos um cansaço a mais, porque, para nos dedicarmos à política, não abrimos mão dos outros compromissos que temos. Eu tenho uma experiência de êxito, de vitória, e eu acredito que isso inspira muitas outras mulheres a entrar. Então, essa primeira iniciativa, que é entrar para uma representação política, acho que é uma questão importante. Segundo, ter vitórias. Já avançamos em legislações como a questão das cotas, mas ainda falta uma mudança no sistema político para avançarmos ainda mais, que é a garantia das cadeiras. Outros países, como a França, instituíram o sistema eleitoral que garante a vaga, a cadeira, e ela não pode ser ocupada por ninguém. Isso precisa avançar no Brasil. Essa questão democrática, que é aumentar o número de representação de mulheres na política, está diretamente relacionada à questão de fortalecimento da democracia, porque eu tenho como concepção que nós não teremos democracia no nosso país se não tivermos maior representatividade das mulheres.

Pensando no próximo mandato, o que podemos esperar de sua relação com as outras prefeituras das cidades da região metropolitana?

Cada prefeito está dentro da sua cidade, e muitos deles acreditam que podem resolver os problemas apenas no âmbito municipal. Isso não tem jeito. Nós, hoje, temos uma cidade que é Contagem, que é conurbada com cinco outras cidades. O problema do transporte coletivo, por exemplo: 70% do transporte coletivo que entra dentro de Contagem é metropolitano. Então, se eu não conversar especialmente com o Estado e com Belo Horizonte, não conseguiremos resolver o problema do transporte coletivo aqui, em Contagem. O problema, por exemplo, das enchentes: o rio nasce aqui e vai para Belo Horizonte, ou nasce em Belo Horizonte e passa por Contagem, ou nasce em Betim e passa por Contagem. Se não discutirmos obras que possam conter enchentes, obras de drenagem, obras de saneamento em conjunto com essas cidades, não conseguiremos ter uma eficácia na resolução de problemas. Por isso é que eu defendo uma articulação metropolitana, que eu dei o nome BH+10, BH mais dez cidades, para discutirmos, especialmente, transporte, segurança e saúde com essas cidades, para resolvermos essas questões ambientais e de mobilidade.

A questão do Rodoanel é muito cara para a região metropolitana. Tem algo que a senhora ainda está tentando com o Estado para tentar rever alguma definição desse projeto?

A expectativa é que o diálogo se fortaleça com o governo do Estado para que possamos melhorar o traçado apresentado. Da forma como o traçado se apresenta, ele é mais uma divisão da cidade de Contagem, porque ele corta a cidade em 13 km e em uma região que é uma área de preservação ambiental. Então, não queremos que Contagem sofra com essa via, que pode melhorar todo o sistema de trânsito na região metropolitana, mas impondo um sacrifício muito grande para a nossa cidade. Isso é inaceitável.

Algumas figuras políticas já ventilam o nome da senhora como uma possibilidade forte para concorrer ao governo de Minas em 2026. Isso vai acontecer? O que podemos esperar do futuro da senhora na política?

Eu não posso deixar de falar que eu fico lisonjeada de o meu nome estar sendo lembrado. É sinal de que existe um reconhecimento da nossa liderança, do meu trabalho à frente da Prefeitura de Contagem. Mas não é minha pretensão abandonar Contagem. A minha pretensão é continuar. A cidade me elege pela quarta vez como prefeita. Isso não é pouca coisa. Isso é sinal de confiança e acredito que o que a cidade quer é que eu continue por quatro anos. E essa é a minha pretensão.