A menos de dois anos do pleito que vai definir o próximo presidente da República, além de governadores e representantes do Legislativo estadual e federal, a segurança pública se consolida como um dos temas que devem assumir o protagonismo na polarização do debate político até as eleições de 2026. É o que apontam especialistas e lideranças de diferentes espectros ideológicos ouvidos por O TEMPO.

Ao passo que casos que levantam debate nacional sobre a atuação das forças policiais e crimes de grande repercussão ganham os holofotes, figuras de diferentes espectros ideológicos cotadas para disputar o próximo pleito, em 2026, buscam, de maneira incisiva, marcar posição sobre o assunto.

A tendência tem sido observada com mais intensidade desde 2024. Por um lado, casos como o assassinato do sargento Roger Dias – morto em serviço, em BH, há um ano, por homem que usufruía do benefício de saída temporária da prisão – incitaram, por meses, manifestações de lideranças da direita à esquerda. 

O crime contra o policial militar levou não só o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), como também chefes de outros Estados, a exemplo do de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do de Goiás, Ronaldo Caiado (União), a se articularem pelo fim da “saidinha” de presos em regime semiaberto – os três nomes são cotados para disputar a Presidência. A mobilização desses e de outros políticos colaborou para que o Congresso aprovasse, em maio, uma lei para extinguir o benefício

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cotado para disputar a reeleição, também adotou iniciativas de grande repercussão ao longo do último ano que envolveram a segurança pública. Foi o caso das diretrizes sobre o uso de câmeras por policiais, da elaboração de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para “aperfeiçoar” o sistema de segurança pública no país e de restrições ao uso da força policial.

Esta última, inclusive, ocorreu na esteira de recentes casos de violência policial pelo país, no fim de 2024. Um deles foi o de um homem jogado do alto de uma ponte por um policial militar, no mês passado, em São Paulo (SP). Novamente, figuras políticas cogitadas para disputar a presidência, como Zema e Caiado – ambos de direita – foram a público se posicionar sobre o tema. O decreto que restringe o uso da força policial, assinado por Lula em 24 de dezembro, foi alvo de críticas de ambos.

Para o especialista em segurança pública Ricardo Bedendo, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o comportamento dos políticos sinaliza que o tema ganhará força no pleito de 2026. “Não tenho a menor dúvida disso, afinal a segurança pública sempre esteve na agenda eleitoral”, diz. Para Bedendo, a ampliação da sensação de insegurança diante do aumento da criminalidade cria cenário favorável para a exploração da pauta até o ano eleitoral.

Deputados admitem que há apelo eleitoral

Parlamentares da direita à esquerda no espectro ideológico admitem que a segurança pública tem grande apelo emocional entre o eleitorado, mas divergem sobre a abordagem em relação ao tema. Membro da bancada mineira na Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados, a delegada Ione Barbosa (Avante-MG) afirma que o assunto tem reflexo direto no dia a dia, o que faz da pauta uma “arena de disputa política”.

“De um lado, temos setores que priorizam o fortalecimento da força policial e a aplicação de penas mais severas; de outro, há quem defenda uma abordagem mais focada na prevenção e nos direitos humanos. Essa polarização reflete não só diferentes visões de mundo, mas também estratégias para dialogar com eleitores que, em muitos casos, esperam respostas rápidas para um problema tão complexo”, analisa. Para ela, apesar da polarização política, há espaço para o diálogo a fim de colocar o interesse da sociedade acima das disputas partidárias.

Outro integrante da Comissão de Segurança Pública na Câmara, o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG) diz que a “politização” da segurança pública parte da direita, em uma “distorção oportunista e irresponsável”. Na visão dele, “as eleições são um momento privilegiado de debates, com apresentação de posições políticas, e isso é fundamental para a democracia”. “Mas tem que ser feito em bom nível, com o objetivo de informar a população, não desinformar”, pontua. Reginaldo admite que, por ser “um dos maiores problemas do país, (o tema) deve ser pautado cada vez mais” até o período eleitoral.

Divergência de ideias mantém tema em alta, diz parlamentar

O presidente da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Sargento Rodrigues (PL), avalia que a segurança pública vai continuar sendo tema relevante nos debates políticos devido às divergências de ideias. “Temos partidos de esquerda que querem afrouxar as leis, abrandar as punições e que têm uma visão, eu diria, poética do crime; enquanto nós que estamos no espectro da direita entendemos que o criminoso deve ser punido no rigor da lei, mas a lei é frouxa”, opina.

Já a presidente da Comissão de Direitos Humanos na ALMG, Andréia de Jesus (PT), defende que “problemas como o crime organizado, a venda de produtos ilegais e a corrupção seguem como desafio”, fato que colabora para que a segurança pública se mantenha como pauta para o próximo pleito.