Em nova direção, o atual presidente da Argentina, Javier Milei, anunciou no dia 23 uma redução temporária de impostos de exportação para o agronegócio. O Brasil não tem tradição de taxar as exportações, mas volta e meia o assunto retorna ao debate.

Em 2023, a Fazenda anunciou imposto de 9,2% sobre as exportações de petróleo bruto por um prazo de quatro meses com objetivo de compensar a perda de arrecadação com a reoneração apenas parcial de tributos federais sobre gasolina e etanol.

Para o grupo do PT favorável à adoção da taxação, a provável reação contrária do agronegócio e do mercado financeiro seria um mal menor tendo em vista, em primeiro lugar, que esses dois segmentos já são majoritariamente refratários ao governo. Em segundo, que a alta nos preços dos alimentos tem um poder corrosivo muito mais preocupante para o governo.

Eles também defendem a volta robusta da política de estoques de alimentos pelo governo para conseguir minimizar eventuais oscilações nos preços.

As propostas aventadas pelo governo até agora – como a possível redução de alíquotas de importação de alimentos e juros menores no próximo Plano Safra – são consideradas inócuas por essa ala do partido.

Após a última reunião com Lula, o ministro Rui Costa descartou a adoção de medidas consideradas "heterodoxas", citando em particular subsídios e tabelamentos.

Considerado um dos principais especialistas em inflação de alimentos, o economista Carlos Thadeu de Freitas Filho, da BCG Liquidez, reconhece que a taxação de exportações é a única medida que teria força para reduzir os preços no mercado interno, mas diz ser contra. Segundo ele, esse tipo de ação produz um estrago na cadeia de produção.

"A única medida capaz de gerar resultado de curto prazo seria taxar as exportações e gerar um excesso de oferta. Porém, isso seria um desastre", disse.

Segundo ele, a medida faria com que muitos abandonassem a produção por não poder exportar ou por ser controlado. "É muito heterodoxo e duvido que o governo queira botar a mão nisso. Dá um alívio no curto prazo, mas gera uma inflação gigantesca no futuro."

Freitas Filho diz ver risco de a proposta crescer porque outros países estão adotando medidas desse tipo, em um cenário mais acirrado de competição comercial com o novo governo de Donald Trump.

Entre os que tributam a exportações, ele cita Índia, Rússia, e Indonésia. "Os Estados Unidos tributam as importações para fomentar o mercado doméstico", afirmou.

A inflação dos alimentos se tornou um ponto de desgaste para o governo Lula nos últimos meses. A primeira semana com foco nessa questão acabou marcada por ruídos com o mercado e também por críticas ao governo nas redes sociais, como na ocasião em que se discutiu a possibilidade de mudar as regras sobre data de validade dos alimentos.

Outro ruído ocorreu quando Rui Costa disse que o governo iria buscar um "conjunto de intervenções" para baratear o preço dos alimentos. Depois, o ministro trocou a palavra "intervenção" por "medidas" para, segundo ele, evitar ruídos de comunicação.(Ranier Bragon e Adriana Fernandes/Folhapress)