A saída do PL da base do governo Romeu Zema (Novo) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) empurrou a bancada do partido para o espaço de oposição ao governador ao lado da esquerda. A configuração, exposta pelas manifestações contrárias de deputados estaduais do PL e do PT, do PCdoB, do PV, do PSOL e da Rede à proposta de Zema para instalar 13 praças de pedágios no Vetor Norte da região metropolitana de Belo Horizonte, deve se repetir até as eleições de 2026.

Três dos 11 deputados da bancada do PL assinaram a proposta de Emenda à Constituição (PEC) apresentada por Bella Gonçalves (PSOL) para vetar a cobrança de pedágio em rodovias entre cidades das regiões metropolitanas. O líder da bancada do PL, Bruno Engler - que propôs projeto de lei semelhante -, Caporezzo e Sargento Rodrigues estão entre os signatários da PEC 49/2025, ao lado dos 20 parlamentares do bloco de oposição a Zema.  

Engler minimizou o alinhamento ao bloco “Democracia e Luta”, de oposição a Zema, contra os pedágios no Vetor Norte. “O PL tem que fazer o que é bom para Minas Gerais e quem estiver ao nosso lado, independentemente de quem seja, é bem-vindo”, pontuou o líder da bancada do PL. “Agora, se a oposição está contra um pedágio que é um absurdo, eu vou ser a favor (ao pedágio) só para ficar contra eles?”, questionou o deputado, acrescentando que, “em muitas coisas, a gente vai votar de forma diferente”.    

O TEMPO procurou os deputados da oposição a Zema, mas, até a publicação desta reportagem, nenhum deles se manifestou. Caso se posicionem, a manifestação será acrescentada. O espaço segue aberto. 

A PEC não foi a primeira oportunidade em que o PL e PT, PCdoB, PV, PSOL, e Rede se reuniram em oposição a Zema, potencial candidato à presidência da República. Há cerca de 15 dias, data em que Gustavo Valadares (Mobiliza) saiu da Secretaria de Governo, o vídeo em que o governador come banana com casca para criticar a inflação sobre o preço dos alimentos sob o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi alvo dos dois lados no pinga-fogo do plenário.

O líder da minoria, Cristiano Silveira (PT), foi o primeiro. “O governador, que, antes, era o Zé da Manga, porque ficava lá apanhando manga, agora é o Zé Banana, porque, para tentar fazer uma crítica ao governo do presidente Lula, ele se utiliza das coisas mais bizarras. Sinceramente, não quero acreditar que o povo de Minas Gerais esteja aplaudindo este tipo de ato”, afirmou Cristiano, que cobrou solução para o estado das rodovias estaduais.

Após Cristiano, Rodrigues foi à tribuna, onde também criticou Zema. “O preço da banana está alto, a inflação está muito alta e, quando o servidor da segurança pública bate na porta seja do secretário de Governo, seja do (vice-governador) Mateus Simões, seja de Luísa Barreto, sabe o que a gente toma na cara? Banana. É isso o que ele (governador) tem feito com a gente”, questionou o deputado, em referência às perdas inflacionárias salariais da categoria.

Dobradinha pode trazer problemas para base de Zema

Caso o PL feche questão para votar contra Zema em determinadas propostas, a soma dos 11 votos da bancada com os 20 do bloco de oposição pode causar problemas para a base de Zema na ALMG. Os 31 votos podem impor derrotas ao governo em projetos de lei, que requerem maioria simples para serem rejeitados. Em 2024, o Palácio Tiradentes enfrentou dificuldades para reunir o quórum mínimo de parlamentares, que é de 39.     

Seis vetos de Zema, recebidos em plenário na última quarta-feira (19 de fevereiro), podem ser o termômetro para a correlação entre o PL e a esquerda, mas Engler ressaltou que os deputados terão liberdade para votar de acordo com as próprias convicções. “A gente vai analisar caso a caso, não só desses vetos que aí estão, como futuros vetos que venham ou mesmo projetos de governo, quais sejam oportunos a gente manter ou derrubar”, ponderou. 

Apesar de o PL ter deixado a base de Zema, interlocutores do governo projetam que a maior parte da bancada permanece alinhada ao Palácio Tiradentes. Para eles, ao menos seis dos 11, ou seja, Amanda Teixeira Dias, Antonio Carlos Arantes, Coronel Henrique, Gustavo Santana, Marli Ribeiro e Lincoln Drumond, que é suplente da secretária de Estado de Desenvolvimento Social, Alê Portela, irão votar com Zema.       

Um gesto de Engler ao novo secretário de Estado de Governo, Marcelo Aro, chamou a atenção na última quinta. Após a solenidade de posse de Aro, onde foi ao lado de Amanda, Arantes e Drumond, o líder da bancada do PL publicou uma foto ao lado do ex-secretário da Casa Civil. “Parabéns ao novo secretário de Governo”, escreveu o deputado, que teve o apoio do PP de Aro ao se candidatar à Prefeitura de Belo Horizonte.

Eleição de Tadeuzinho já juntou esquerda e PL

As únicas oportunidades em que a bancada do PL e a esquerda estiveram juntas, de forma unânime, foi a eleição do presidente Tadeu Leite (MDB), o Tadeuzinho. Ambos apoiaram Tadeuzinho e, como contrapartida, tiveram cargos na Mesa Diretora, com Leninha (PT) e Betinho Pinto Coelho (PV) na 1ª e na 3ª vice-presidência da ALMG, respectivamente, e Santana, como 1º secretário - entre 2023 e 2024, foi Arantes.

Apesar de deputados do PL terem se somado à oposição contra a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal durante a votação em 1º turno, por exemplo, o posicionamento da bancada não foi unânime. Enquanto Rodrigues, Caporezzo, Eduardo Azevedo e o ex-deputado Coronel Sandro foram contrários, Amanda, Arantes, Coronel Henrique, Santana e Marli foram favoráveis. Engler e Delegada Sheila se abstiveram.

A situação foi semelhante durante a votação das emendas para estender a recomposição salarial dos servidores públicos para além dos 4,62% no último ano. Engler, Caporezzo, Sandro, Sheila, Azevedo e Rodrigues se posicionaram contra Zema, que queria derrubar as emendas, mas Alê, Arantes, Coronel Henrique, Santana e Marli foram favoráveis.