A população e a prefeitura de Riacho dos Machados, no Norte de Minas, reuniram centenas de pessoas para protestar contra a criação de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), que deve ocupar cerca de 45% da área do município, conforme informações da administração municipal. Moradores, comerciantes e prefeitos de Rio Pardo de Minas, Serranópolis e outras cidades que também terão territórios incluídos na reserva, participaram do ato realizado, neste sábado (3 de maio), em uma escola do município.

A criação da Reserva de Preservação Tamanduá-Poções, na região da Serra Geral, está sendo proposta pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão do governo federal. As primeiras audiências para criação do parque foram realizadas nos dias 24 e 26 de abril e a perspectiva de restrições econômicas que podem ser aplicadas à região trouxe insegurança para a população, que organizou um abaixo-assinado e agora tenta mobilizar autoridades do Estado e da União para barrar a instalação da RDS. 

De acordo com o prefeito da cidade, Ricardo de Minga (PL), toda a população foi surpreendida. “A gente nem sabia que isso estava acontecendo. A primeira vez que o pessoal do ICMBio me ligou para tratar do assunto foi em 18 de março. Depois fizeram as audiências aqui, cheio de ONG, mas parece que eles não querem ouvir a gente; já têm opinião formada”, diz.

O prefeito relata que na cidade foi descoberta uma reserva de minério de ferro e que recentemente foram iniciados estudos, pela mineradora Vale, para exploração da área. Ele teme que a criação do parque inviabilize o avanço dos estudos e prejudique projetos econômicos na cidade. Outras mineradoras já atuam na cidade, inclusive a Equinox Gold, que explora uma jazida de ouro na cidade.

De acordo com as regras da “reserva de conservação”, a criação da unidade de proteção ambiental permitiria uso econômico da área, mas apenas para atividades tradicionais. 

“A RDS é uma categoria de unidade de conservação que pode garantir esta proteção ambiental reivindicada sem impactar ou restringir o modo de vida tradicional destas comunidades. As atividades ali já praticadas por diversas gerações têm se mostrado totalmente sustentáveis e protetoras da natureza”, diz nota do órgão sobre a proposta de criação da unidade em Riacho dos Machados. 

Segundo o ICMBio, a proposta de criação começou a tramitar nos anos 90. “A proposta de criação da RDS Córregos Tamanduá-Poções-Peixe Bravo foi reivindicada pelo movimento Geraizeiro na década de 90, para a proteção dos campos gerais (Cerrado), das cabeceiras de Rio (áreas de recarga hídrica) e do modo de vida tradicional das comunidades Geraizeiras no norte de Minas. Posteriormente, a comunidade do quilombo de Peixe Bravo, cujo território já foi indicado em Estudo Antropológico, mas ainda não foi demarcado, aderiu à mesma reivindicação, visando incorporar seu território na RDS Córregos Tamanduá-Poções-Peixe Bravo, para também proteger seus recursos naturais e modo de vida”, diz.

Essa linha de “obrigar a população da região a continuar vivendo do extrativismo”, fazendo o que eles chamam de “barrar o desenvolvimento”, foi a principal crítica. O prefeito Ricardo da Minga alega que o projeto só avançou após o início dos estudos para a extração de minério de ferro na cidade. “Eles querem que a gente continue vivendo de coletar pequi no meio do mato. Está na hora do Norte ser “Minas” também e não apenas “Gerais”. A gente quer que tudo seja feito respeitando o meio ambiente, mas a gente também quer mineração igual no resto do Estado”, disse o prefeito.